Na poética de Miriam Alves são manifestados espaços vivenciais que fogem às definições sociais, políticas e culturais endereçadas ao propósito de fragmentar a identidade negra feminina. Tais espaços são fixados no território da ancestralidade que, fundido à memória, tornam-se referências para a construção da identidade e da subjetividade da mulher negra. Com base nisso, esta pesquisa tem como fio condutor o seguinte problema: De que modo se dá o processo de construção do espaço vivencial da identidade e da subjetividade da mulher negra por meio das narrativas enredadas no espaço ficcional dos romances de Miriam Alves? Hipoteticamente, partimos do princípio de que os diferentes espaços vivenciais – casa, varanda, mar, Escola de Música, Vila Esperança, Quitanda de D. Trudes, dentre outros, possibilitam o vivenciar de experiências múltiplas das personagens negras no espaço ficcional dos romances de Miriam Alves, pelo entrelaçamento entre temporalidades distintas e a ancestralidade por meio do elo memorialístico, da religiosidade, da relação com a natureza, que resultam em processos de construção da identidade e da subjetividade da mulher negra. A partir do objetivo geral fixado, que é investigar o espaço vivencial da identidade e da subjetividade da mulher negra na prosa de Miriam Alves, enredado no espaço ficcional dos romances, através da análise das personagens femininas e suas ações, tendo como corpus as obras Bará na trilha do Vento (2015) e Maréia (2019), serão estabelecidas discussões de cunho teórico e analítico com base em: Bachelard (2000) e Tuan (2018), a despeito dos espaços de vivências habitados pelas personagens; Bauman (2005), Hall (2003, 2014), Silva (2014), Woodward (2014) acerca da identidade; Félix Guattari (2020), Alves (2010), com reflexões sobre a subjetividade negra como devir e assumir-se negro; entre outras, como Silva (2019), Miranda (2019), Santos (2018), Alves (2010), Cuti (2010), Carneiro (2019), hooks (1995), Evaristo (2005), Collins (2019), tendo em vista que as ações protagonizadas pelas mulheres negras presentes nas obras em tela requerem uma sustentação epistemológica também negra, para que o processo de compreensão interpretativa não fuja à realidade, ainda que ficcionalizada. Ante o exposto, o percurso metodológico empreendido nesta pesquisa será orientado pelo compromisso precípuo de referenciar teoricamente as textualidades negras, que dialogam entre si nos espaços de circulação e protagonismo do intelecto negro, enquanto ato político fundado no enfrentamento das desigualdades naturalizadas como condição da existência do sujeito negro. Considerando as discussões aqui empreendidas, compreende-se que, dadas as significações que possuem, os espaços ocupados pelas personagens, no romance, medeiam as relações sociais, interferindo e viabilizando construções identitárias e subjetivas da mulher negra.