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Banca de QUALIFICAÇÃO: LUIZ GOMES DE BRITO NETO

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: LUIZ GOMES DE BRITO NETO
DATA: 08/12/2021
HORA: 16:00
LOCAL: Google Meet
TÍTULO: A escuta do Corpo como Potência: Zonas de contágio entre arte da performance, dançacontemporânea e psicologia clínica
PALAVRAS-CHAVES: corpo, zonas, perfomance
PÁGINAS: 50
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Introdução: O presente trabalho trata de uma cartografia dos processos de subjetivação desenvolvidos nas performances “devir-criança-...”, “O acadêmico esgotado” e “BUDAESQUIZÔ”, ações apresentadas em meu percurso como artista, pesquisador do corpo e psicoterapeuta no contato com diferentes públicos e realidades (entre os anos de 2018-2019). Tais performances utilizam principalmente a dança contemporânea como linguagem e incidem em temas e dimensões condizentes e sensíveis aos processos de subjetivação e, em parte, informados com a escuta clínica. Suely Rolnik (1989) afirma que o cartógrafo prioriza em seu trabalho um tipo de sensibilidade,um composto híbrido que envolve as vibrações do seu corpo, procurando inventarprocedimentos adequados ao contexto em que se encontra. O cartógrafo possui como tarefa absorver matériasde quaisquer procedências, das mais variadas fontes,matérias que sirvam para a criação de sentidos, e construir um mapa sempre inacabado, aberto, composto de diferenteslinhas – que são os elementos constitutivos das coisas e dos acontecimentos. O método cartográficoé um modo de acompanhar processos de produção desubjetividade, e requer a utilização de dispositivos que tenham a capacidade de irrupção daquiloque se encontra bloqueado para a expressão. Os dispositivos,para Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Liliana da Escóssia (2012), podem desfazer os códigos, tensionando, movimentando, deslocando para outro lugar, provocandonovos agenciamentos. A arte da performance e a dança contemporânea são dispositivos que se voltam ao exercício da potênciade criação, o que nos coloca frente a um caos composto de múltiplos elementos e hibridações.Nem mesmo para o artista é fácil se desfazer das convenções, opiniões e clichês, justamente porque fazem parte de sua existência. Não podemos negar ou apagar o vivido, mas é possível, como propõem Gilles Deleuze e Félix Guattari (1997), arrancar dele a sua potência minimizada pela pregnância do cotidiano no olhar. E como resgatar a vontade 84 de potência que foi minimizada? Os filósofos propõem que se invista sobre os estratos sedimentados do vivido, abrindo neles uma fenda necessária para a passagem do caos. Em meio aos trajetos habituais que tendem a se refazer continuamente, a Esquizoanálise nos instiga a aproveitar as linhas de fuga que se diferenciam, encontrando uma brecha para fazer passar o caos. O que caracteriza o caos não é a ausência de determinações, explicam os filósofos, e sim a velocidade infinita com a qual elas se esboçam e se apagam; uma não aparece sem que a outra tenha desaparecido. O caos não é o nada, mas o movimento incessante de forças que podem se atualizar e se dissipar instantaneamente. A instabilidade e as variações múltiplas de velocidades são aspectos do caos, onde transbordam virtualidades em contínuo movimento e mudança. O caos deleuziano, pontua Raquel Gouvêa (2012), não é transcendente, não está em um mundo paralelo. O caos, na verdade, é o próprio fluxo da vida, fonte primeira do vir a ser, zona de turbulências – ou seja, a imanência é a pura intensidade da vida. Daí a necessidade de se afirmar o saber do corpo, de criar subjetividades, de klinicar – do grego klinanem, desvio ou invenção. Klínica difere da clínica do leito (kliné), centrada na ideia de um paciente à espera passiva da cura, numa hierarquização do saber, como sinalizam Luciano Bedin da Costa e Mayra Martins Redin (2007). As experimentações na arte da performance e na dança contemporânea suscitam pistas de zonas limítrofes, de contágio, de bordas, indicando pontos de encontro/desencontro entrepensamento e corpo, identidade e modos de subjetivação. De acordo com Sonia Mansano (2009), a recusa do individualismo já tão naturalizado é uma ação política, ao romper com o compromisso da obediência a regras universais e ao fazer circular invenções microssociais de novas formas de vida, possibilidades de existência. Já Tania Rivera (2013) discute a percepção do sujeito que não mais se encontra consigo mesmo no mundo, mas que parece perder-se no espaço, que passa por estranhamentos na disseminação do próprio corpo; perdendo também o lugar de "senhor" da própria percepção, restando-lhe constatar sua mistura à cena do mundo, em que se mimetizam o que apreende de si, a percepção do outro e o ambiente.A clínica, em interseção com a arte da performance e a dança contemporânea,pode tornar visível o invisível, os processos de singularização e diferenciação. Captando as forças que circulame afetam as relações entre o artista e o psicoterapeuta, o artista e o público, o psicoterapeuta e o cliente, dando-lhes esteticamente uma forma no decorrer do processo, transformando-as em potência para a criação de modos afirmativos de vida. Corpos em devir aqui reunidos em pleno vigor criativo com o caos, transformando e reatualizando a experiência vivida, enfraquecendo seu poder de determinar o real, sua causalidade, não 85 mais condicionando o corpo a reagir ou a refazer velhos trajetos, repetições mecânicas e a perpetuar territórios imóveis. Na dança contemporânea, por exemplo, movimento, forma e imagem se agenciam sobre o profundo e denso plano dos corpos. Diferentemente do plano de representação, o plano dos corpos possui uma consistência, não se restringe à superfície, é cheio de energia potencial vital. O plano de representação se encontra distante da potência do corpo, sua função é fixar e organizar o corpo anatômico, enquanto o plano dos corpos é imanente, constituído de relações de movimento entre seus elementos.É um plano dançarino, de proliferação e de contágio. O ambiente que pulsa na arte da performance e na dança contemporânea é o plano de imanência dos corpos, lugar onde se criam modos de vida, mesmo que provisórios e precários, mesmo que exacerbem a dimensão de artifício da própria existência. O corpo em ação é um corpo de intensidades, corpo que sugere acaptação de forças, como um campo magnético que se estende ou se concentra, rompendo seuslimites. De acordo com Rosa Gadelha (2010), não existe nele um encadeamento por continuidade, e sim através de rupturas edescontinuidades. O trabalho possui como objetivo principal, portanto, investigar as interseções entre arte da performance, dança contemporânea e a prática clínica no âmbito dos processos de subjetivação. No tocante aos objetivos específicos pretende: I. realizar uma ontologia do sujeito, da subjetividade e dos modos de subjetivação, tendo em vista a interface entre a arte da performance, a dança contemporânea e a prática clínica; II. elaborar um corpo conceitual consistente com a Esquizoanálise, aprofundando a construção da escuta e da prática do corpo na clínica da diferença; III. analisar as performances“devir-criança-...”, “O acadêmico esgotado” e “BUDAESQUIZÔ”, na tentativa de construir pistas para uma klínica performativa, dançante. Os resultados deste estudo não se encerram em conclusões; uma cartografia não possui começo nem fim, está sempre em processo. Ao acompanhar os processos de subjetivação nas relações entre a arte da performance, a dança contemporânea e a psicologia clínica, podemos produzir outros modos políticos de restaurar a potência no vivido do corpo. É justamente através deste percurso que se constrói uma klínica menor, minoritária, mais sensível, potente, desviante, descontínua, que se atualiza a cada encontro com o desconhecido. Trabalhar a sensibilidade e a escuta do corpo em múltiplos lugares é o que confere potência de criação na klínica.


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - ANA KARENINA DE MELO AARAES AMORIM - UFRN
Interno - 2231565 - ANTONIO VLADIMIR FELIX DA SILVA
Presidente - 1402780 - GUILHERME AUGUSTO SOUZA PRADO
Notícia cadastrada em: 07/12/2021 19:50
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