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Banca de QUALIFICAÇÃO: INGRYD SILVA COSTA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: INGRYD SILVA COSTA
DATA: 15/12/2022
HORA: 16:00
LOCAL: Online/Remoto - Google Meet
TÍTULO: A atenção a crise psíquica grave em contextos rurais
PALAVRAS-CHAVES: Sofrimento Psíquico; Zona Rural; Reforma Psiquiátrica
PÁGINAS: 50
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Introdução: A sociedade brasileira vivenciou um grande marco no avanço na assistência em saúde por meio dos direitos garantidos pela Constituição Federal em 1988 e no campo da saúde mental esse cenário de luta é fortalecido pela Reforma Psiquiátrica que também tem início no final dos anos 1980. Dessa forma a Lei 10.216 de 2001, que prever os direitos dos usuários de saúde mental e o fim dos manicômios, redireciona a atenção em saúde mental por meio da atenção psicossocial que já vinha tomando força pela mudança de práticas impulsionadas pela Reforma Psiquiátrica e pela Luta Antimanicomial. A atenção às crises psíquicas graves, mesmo no cenário reformista, enfrenta desafios, no sentido de garantir uma atenção que fuja de olhares manicomiais. Quando olhamos para atenção a crise nas áreas rurais do país temos a certeza de que o desafio é ainda maior, tanto para os trabalhadores quanto para os familiares e os usuários em função das determinações sociais do processo saúde-adoecimento-sofrimento-cuidado e que impactam no acesso e continuidade da assistência. Fundamentação Teórica: Para Silva et al. (2015), a Reforma Psiquiátrica Brasileira introduz a mudança do paradigma do modelo asilar para o modelo psicossocial. Tal transformação implicou no crescente aumento e implantação dos serviços substitutivos por todo país. No entanto, a criação e implantação dos mesmos não é a garantia do fim de práticas manicomiais. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se tornaram o serviço/referência nessa mudança de paradigma. “Atualmente, o Brasil conta com 2.742 CAPS habilitados, distribuídos em 1.845 (um mil, oitocentos e quarenta e cinco) municípios em todos os Estados e no Distrito Federal” (Brasil, 2021, p.5). A existência humana sempre foi atravessada por crises, períodos considerados desafiadores e em muitos casos o marco, o divisor de águas, para uma possível nova etapa. Evidentemente, as crises mobilizam também sofrimento e angústia. De acordo com Brasil (2013) “a palavra crise vem do grego krísis, que significava, na sua origem, momento de decisão, de mudança súbita; separar, decidir, julgar”(p.100). A definição dos chineses também chama muita atenção, pois no ideograma que representa crise, os mesmos a definem como “perigo” e “oportunidade” (Dubugras Sá et al., 2008). Para Costa (2013, p.34) a crise é um “modo de decisão que pode tornar a vida melhor ou pior”. Nos cenários de zona rural a crise psíquica também se apresenta e sobre esta relação tercemos reflexões neste trabalho. Para Aruda et al (2018) a população da zona rural conta com uma série de dificuldades que ao longo do tempo vão contribuindo com o surgimento de doenças e agravos de outras ordens. Tais dificuldades dizem respeito a questões socioeconômicas (renda e moradia) e a própria carência de políticas públicas que contemplem esses espaços. De acordo com Magalhães et al (2022), as populações da zona rural contam em sua maioria apenas com os serviços de saúde que são disponibilizados pela atenção básica, o que ao logo do tempo não supre totalmente suas necessidades de saúde. No tocante as áreas rurais do país, pode-se observar que a crise psíquica grave nesses espaços pode fazer ver uma serie de questões, tais como: relação família/usuário; papel dos serviços de saúde ali presente; função da internação psiquiátrica, bem como faz pensar como a Reforma Psiquiátrica chegou na zona rural do país e quais avanços e entraves ainda são percebidos no contexto atual. Objetivo geral: Conceber a crise psíquica grave em contextos rurais como analisador do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil e da regionalização da Política de Saúde Mental. Quanto aos objetivos específicos têm-se: 1) Acompanhar famílias da zona rural com histórico de usuários com crise psíquica grave e levantar as necessidades de cuidado psicossocial em saúde mental; 2) Mapear as formas de participação e de cuidado dos familiares da zona rural diante das necessidades de cuidado de usuários com crise psíquica grave, a partir da assistência oferecida pelos serviços; 3) Problematizar os limites e desafios da Reforma Psiquiátrica e da Política de Saúde Mental diante das situações de crise psíquica grave em contextos rurais. Método: O caminho metodológico traçado ao longo da pesquisa, tem seus direcionamentos afinados com a Análise Institucional (AI). Para Martins (2017) houve uma abertura para as práticas psi no que se refere a novos espaços de atuação a partir da consolidação da análise institucional. É imprescindível, ainda de acordo com o autor citado, entender que o movimento de Análise Institucional a que estamos nos referindo tem sua concretude na França, após a Segunda Guerra Mundial, e que Georges Lapassade e René Lourau, autores muito conhecidos, são dois nomes representativos desse movimento. Quanto à utilização de ferramentas de produção de dados: levamos em consideração a produção dos diários de campo e entrevistas com núcleo familiar.Segundo Barros e Kastrup (2009), os diários de campo dizem respeito a anotações que “colaboram na produção de dados de uma pesquisa e têm a função de transformar observações e frases captadas na experiência de campo em conhecimento e modos de fazer” (p.70). A pesquisa foi realizada com moradores de áreas rurais da cidade de Água Doce do Maranhão, usuários que passaram por internação psiquiátrica e seus familiares. Ao todo participaram das entrevistas 9 pessoas: dentre os usuários, 2 mulheres e 1 homem e entre os familiares: 2 homens e 4 mulheres. No início dos encontros, expliquei de que se tratava a pesquisa e apresentei o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que foi assinado por todas e todos. A realização das entrevistas foram encontros para além da produção dos dados da pesquisa, de uma profunda mobilização de sentimentos e lembranças. Em vários momentos os participantes se emocionaram ao lembrarem-se das primeiras crises e dos dias difíceis na internação psiquiátrica, então a gente parava um pouco pra acolher os afetos que ali se expressavam. Também oferecemos uma escuta individual, em um momento posterior a entrevista. Resultados: Ao entrarmos em contato com o campo, podemos vivenciar as forças instituídas e instituintes, dessa forma compreendemos que estar no campo é produzir de certa maneira atravessamentos e ser também atravessada. Após as entrevistas realizadas com as famílias e os usuários de saúde mental, organizamos 3 blocos a partir do que emergiu das falas durante os encontros, a saber: a) condições de vida na zona rural; b) a experiência de usuário e de familiar da saúde mental em contexto de zona rural; c) cuidado em saúde mental. Os três blocos citados acima emergiram do contato com o campo, a seguir descreveremos alguns dos principais aspectos de cada um destes. Em relação a condições de vida na zona rural, os temas mais relevantes foram; o isolamento dos centros das cidades; a dificuldade na garantia de direitos, tais como acesso aos serviços de saúde, e direitos sociais como, por exemplo, a garantia do auxílio-doença. Também foi perceptível a presença de falas que demonstraram o esforço e a pouca remuneração em relação ao trabalho, como é o caso do trabalho de roça, responsável pela garantia da farinha como alimento e como produto de venda. No bloco A experiência de usuário e de familiar da saúde mental em contexto de zona rural, foi possível constatar questões relacionada ao início dos sintomas dos usuários, e como esse surgimento produz desentendimentos e conflitos nos sistemas familiares; também ficou notório a presença de vínculos fragilizados quando o usuário apresenta agressividade; preconceito e exclusão em relação surgimento do sofrimento psíquico; compreensão da internação psiquiátrica como grande solução para os sintomas, pois certamente há um desconhecimento por parte dos familiares em relação ao serviços criados para a substituição ao modelo asilar como é o caso dos CAPS; decepção com o tratamento ofertado nas internações psiquiátricas que em sua maioria acarretaram uma carga de sofrimento devido as contenções e distância dos familiares; a culpabilização e a sobrecarga física e emocional também estiveram presentes as falas dos participantes. Em relação ao bloco Cuidado em saúde mental; tem-se a apresentação de questões tais como; oferta de cuidado pelos familiares e pouca retaguarda dos serviços, o que evidentemente deixa a grande maioria de moradores da zona rural a mercê de suas próprias estratégias; distância geográfica dos serviços especializados em saúde mental, o que limita a inserção desses usuários em atividades dos CAPS, que são espaços que foram destinados a atender e acolher as demandas de sofrimento psíquico grave; realização de parte do tratamento pela iniciativa privada (gastos não previstos com o tratamento). Muitas famílias acabam recorrendo a setor privado, pedindo ajuda de recursos a outros familiares na busca de algum atendimento ao seu familiar. Sem tratamento precoce á crise, a internação psiquiátrica é sempre orientação dos profissionais da Atenção Básica. Uma última questão, como não há um plano voltado para acolhimento precoce às crises, a intervenção que resta é a internação psiquiátrica quando o usuário apresenta sofrimento latente. As últimas análises do trabalho em questão estão sendo realizadas, no entanto tudo que já emergiu nos despertam muitas reflexões de como a Reforma Psiquiátrica, marco tão importante de nossa história, ainda precisa adentrar de forma mais potente os espaços de zona rural, espaços onde o sofrimento psíquico grave existe, portanto também precisa ser acolhido e respeitado.


MEMBROS DA BANCA:
Interno - 1402780 - GUILHERME AUGUSTO SOUZA PRADO
Presidente - 1774313 - JOAO PAULO SALES MACEDO
Externo à Instituição - MICHELE DE FREITAS FARIA DE VASCONCELOS - UFS
Notícia cadastrada em: 06/12/2022 06:27
SIGAA | Superintendência de Tecnologia da Informação - STI/UFPI - (86) 3215-1124 | © UFRN | sigjb05.ufpi.br.instancia1 19/04/2024 09:50