A busca por biomateriais que otimizem a reparação óssea é uma demanda crescente na medicina moderna, exigindo materiais que mimetizem a matriz extracelular, promovam neoformação óssea e modulem a resposta inflamatória. Hidrogéis baseados em polissacarídeos naturais, como o de goma de mandioca (HGM), emergem como plataformas promissoras devido às propriedades de biocompatibilidade, biodegradabilidade, modulabilidade estrutural in vitro e disponibilidade na flora regional. A crisina, um flavonoide natural encontrado em plantas, mel e própolis, possui propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e osteoprotetoras in vitro possivelmente relevantes para o reparo ósseo. Contudo, estudos com a interação entre HGM e crisina na reparação óssea ainda são escassos. Diante disso, este estudo teve como objetivo investigar a interação entre a molécula de crisina e o HGM, bem como a funcionalização de suas propriedades físicos-químicas para as características fisiopatológicas de interesse à reparação óssea, num modelo in silico, como etapa preditora para um futuro estudo in vitro. Para tal, utilizou-se uma abordagem multifacetada, combinando validações experimentais preliminares in vitro e predições computacionais in silico. Os ensaios in vitro confirmaram a biocompatibilidade do HGM puro, demonstrando ser não-hemolítico (<5% de hemólise), não citotóxico para células sinalizadoras medicinais (MSCs), e induzir uma resposta inflamatória inicial moderada em macrófagos, compatível com as descrições prévias de reparação óssea. Complementarmente, as investigações in silico predisseram o potencial bioativo da crisina e a viabilidade da funcionalização HGM-Cr, identificando alvos chave em vias osteoimunológicas (PPARG, GSK-3Β, ESR1, PTGS2, PARP1), interações favoráveis com proteínas relevantes por docking molecular, um perfil ADMET predito compatível com aplicação local, e a viabilidade termodinâmica da formação do complexo HGM-crisina por DFT. Embora a validação experimental direta in vitro da formulação funcionalizada (HGM-Cr) seja uma limitação do estudo, a combinação da biocompatibilidade experimental comprovada da matriz HGM com as fortes predições in silico sobre a crisina e sua interação justificam racionalmente a proposta da formulação HGM-Cr como um biomaterial funcional biointerativo para estudos in vitro de osteocondução e osteointegração. Além disso, etapas in silico podem contribuir para a prospecção de baixo custo de biomateriais funcionalizados, com perspectiva de uso na medicina regenerativa.