INTRODUÇÃO: A sexualidade é um componente essencial da qualidade de vida e inclui a função sexual, composta por desejo, excitação, orgasmo e satisfação. Alterações nessas fases caracterizam a disfunção sexual feminina, um relevante problema de Saúde Pública. No Brasil, sua prevalência é elevada entre as mulheres. OBJETIVO: Avaliar a Função Sexual de mulheres em idade reprodutiva assistidas em uma Unidade de Atendimento Ambulatorial Especializada de um Hospital Federal no Estado do Piauí. MÉTODO: Estudo observacional, analítico, transversal e quantitativo, desenvolvido em um ambulatório ginecológico de um Hospital Federal no Estado do Piauí de abril a junho de 2025. A amostra foi não probabilística e por conveniência e aplicação dois questionários: caracterização e Female Sexual Function Index (FSFI). Houve tabulação no Microsoft Excel e análises no software Jamovi 2.3. Foram aplicadas medidas de tendência central, dispersão e frequência. Para a análise bivariada, utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk, Qui-quadrado e Mann-Whitney U. As variáveis com p<0,10 seguiram para regressão logística binomial ou multinomial, com cálculo da Odds Ratio ajustada e intervalos de confiança (IC 95%), adotando-se significância de 5%. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (CAAE: 85761725.6.0000.8050). RESULTADOS: Das 306 participantes, a maioria esteve entre 40 a 49 anos (39,9%), eram pardas (48,4%), casadas (42,5%), com ensino médio completo (52,3%), orientação heterossexual (83,7%), católicas (63,7%), renda familiar de 1 a 3 salários mínimos (47,1%), autônomas (32%) e provenientes do interior do Estado (58,8%). Houve prevalência de sobrepeso (44,4%), com condição clínica associada (58,8%) e sedentarismo (59,8%). A menarca variou entre 11 a 18 anos, com presença de ciclo irregular (58,2%), dismenorreia intensa (67,6%), sem histórico de infecção sexualmente transmissível (86,3%) e aborto (80,1%). A maioria possuía filhos (78,4%), relatou dor pélvica crônica (64,4%), reduzida frequência de relações sexuais semanais (≤3) (72,5%), ausência de masturbação (81,4%) e insatisfação com a autoimagem (68,0%). Constatou-se presença de disfunção sexual, segundo o FSFI, em 84,3% das participantes. O domínio Satisfação apresentou a maior média, enquanto que o Desejo Sexual foi o mais comprometido. Quanto aos fatores associados à disfunção sexual, elenca-se: mulheres pretas (OR=0,30; IC95%; p=0,013), com ensino médio (OR=30,26; p<0,001), dor pélvica crônica (OR=25,01; IC95%; p<0,001), ciclo menstrual irregular (OR = 0,08; p<0,001), dismenorreia intensa (OR=0,00; p<0,001), menor frequência de relações sexuais semanais (≤3) (OR=0,02; IC95%; p<0,001), menor tempo de relacionamento (≤5 anos) (OR=3,37; p=0,008), histórico de violência conjugal (OR=0,12; p=0,044) e insatisfação com a autoimagem (OR=0,12; IC95%; p<0,001). Por outro lado, a masturbação demonstrou ser um fator protetor (OR=149,88; IC95%; p<0,001). CONCLUSÃO: Os achados sugerem necessidade de mudanças na abordagem clínica da saúde sexual feminina. Portanto, a abordagem integral da saúde da mulher deve incluir espaços para diálogo seguro e livre de julgamentos.