PROCESSOS DE CRIOULIZAÇÃO NO ROMANCE UM DEFEITO DE COR: SOBRE AS CONDIÇÕES DE POSSIBILIDADES A UMA [PRESUMÍVEL] IDENTIDADE CULTURAL LATINO-AMERICANA
Um defeito de cor. Crioulização. Prefácio. Rizoma. Identidade Cultural.
A presente pesquisa propõe uma análise dos processos de crioulização, conforme Édouard Glissant (2014, 2011, 2005, 1997a, 1997b), no romance Um defeito de cor (2009) de Ana Maria Gonçalves. Levantamos a hipótese de que algumas teorizações que reconhecemos como exógenas e admitidas como universais não oferecem subsídios suficientes à compreensão de expressões literárias [e culturais] latino-americanas. Em acordo com o proposto por Alves (2009), a busca de instrumentos teóricos e procedimentos metodológicos, de modo a subsidiar a presente pesquisa, conjectura as seguintes propostas de Glissant enquanto premissas: i) o Caribe tomado como prefácio às Américas (2005, p. 12), de modo a considerar Um defeito de cor como prefácio às Américas, visando a uma discussão das condições de possibilidades à identidade cultural latino-americana a partir da leitura do romance; e ii) a identidade-rizoma (2005, p. 19), de modo a compreender o romance como integrante do entrecruzamento de valores da totalidade-mundo (GLISSANT, 2005). Por meio de uma história narrada sob o ponto de vista de uma mulher negra, Ana Maria Gonçalves nos apresenta um retrato do período colonial desde uma perspectiva interna da colonialidade, desvelando suas contendas, tensões e fendas. Como resultados parciais, consideramos que a leitura glissanteana da obra Um defeito de cor colabora ao desenvolvimento de práticas descolonizadas na construção do conhecimento. Ademais, ressaltamos a necessidade de marcarmos uma epistemologia desde a diferença cultural (MIGNOLO, 2003) vis-à-vis a um padrão de conhecimento geoistoricamente situado que se impõe como universal.