Dentro dos estudos da Análise do Discurso Literário (ADL), nos interessa, nessa pesquisa, investigar acerca do lugar do discurso literário e da situação de localização da fonte desse discurso. Durante o estágio criativo, o autor se encontra num processo complexo que requer um confronto e conciliação entre as duas formas de existências, a do autor e a da obra. O paradoxo existencial do discurso literário apoia-se na indefinição do lugar do autor que se encontra em um lugar indeterminado entre os perímetros da produção literária, pois não possui um pertencimento pleno ao campo literário nem um território fixo na sociedade. Isso baseia o conceito-chave da nossa pesquisa, a Paratopia. O autor, dessa forma, é levado a administrar a produção literária dentro dessas condições de impossível pertencimento e insustentável localização. Dessa forma, esta pesquisa se ampara em um estudo de natureza qualitativa e interpretativa que busca responder o questionamento de como a localização às margens do autor piauiense Abdias Neves interfere na sua produção e como se estabelecem essas relações paratópicas em seu discurso literário na obra Um manicaca. Para isso, procuramos compreender como a paratopia está caracterizada na obra propondo-nos a identificar os aspectos paratópicos; classificar aos elementos paratópicos; e verificar o funcionamento da embreagem paratópica no discurso literário da obra. A partir das análises parciais, identificamos, até agora, três tipos distintos de paratopia na obra: a paratopia de tipo discursivo, caracterizada pela dispersão discursiva na escrita do autor que o leva às fronteiras entre as posições discursivas da sua atividade de polígrafo; a paratopia de identidade social, estruturada através da aproximação com duas personagens, Praxedes e Júlia, que assim como o autor, destoam do padrão social e são empurradas para a margem social; e a paratopia temporal, marcada nos discursos paradoxais que revelam um autor à frente de seu tempo. Esses elementos são os embreantes centrais e os motores que possibilitam o desenvolvimento paratópico mediante ao processo criativo de produção da mesma, pois oferecem ao autor o suporte para os movimentos de aproximação e distanciamento com a sua obra. A paratopia criativa de Neves é, portanto, o que fornece a pulsão da criação literária de Um manicaca, desvelando as sua relações paradoxais com a mesma e configurando-se através do discursivo literário de um autor marginal.