A pesquisa pretende analisar como o corpo humano e as máquinas são descritas no romance de ficção científica Ubik (1969), de Philip K. Dick. O enredo distópico da obra se passa num futuro de sociedades consumistas, inicialmente 1992, em que poderes são algo corriqueiro e as pessoas “mortas” podem ser mantidas numa forma de animação suspensa chamada meia-vida. Neste sentido, dois personagens chamam atenção: o empresário Glen Rucinter e sua esposa, Ella. O primeiro possui um corpo composto por mais de uma dezena de órgãos artificiais enxertados no seu sistema fisiológico à medida que os genuínos, originais, falham. Enquanto isso, Ella encontra-se no Moratório Entes Queridos, localizado na Suíça e de propriedade de Hebert Von Vogelsang. Os moratórios se aproximariam um pouco dos conhecidos cemitérios de hoje, porém os corpos dos meias-vidas, espécie de estágio entre a vida e a morte, são conservados em bolsas térmicas. A partir destas observações, desenvolve-se uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, pois esta modalidade possibilita a reflexão crítica a partir de conhecimento acumulado (registros disponíveis), sendo, portanto, a mais adequada para a construção deste trabalho. Primeiramente são feitas reflexões em torno da ordem pós-moderna, dos conceitos de modernismo e pós-modernismo, com foco no campo literário, e, em seguida, serão abordados os gêneros que permeiam Ubik (distopia e ficção científica). Em uma segunda etapa, debruça-se sobre as modificações que o corpo humano vem passando e o texto apoia-se nos seguintes pensadores: Giddens (2002) afirma que nesta época “o corpo está plenamente disponível para ser trabalhado pelas influências da alta modernidade. Como resultado desses processos, suas fronteiras se alteram.”; Jonas (2006) declara que se antes o homem deveria ter o total domínio sobre a natureza, modificando-a e criando-a, agora, “o homo faber aplica sua arte sobre si mesmo e se habilita a refabricar inventivamente o inventor e confeccionador de todo o resto.”; para Bauman (2009) o corpo é “fonte particularmente prolífica de uma ansiedade eterna, exacerbada pela ausência de escoadouros estabelecidos e confiáveis para aliviá-la, que dirá para reduzi-la e ou dispersá-la”. Pode-se concluir, ao final destes dois capitulos, que se nos períodos precedentes da história o homem seria capaz apenas de prolongar o tempo de vida imposto pela natureza, em condições de pós-modernidade, o homem passa a ser capaz de acelerar o curso natural da natureza e ainda de criar naturezas artificiais ontologicamente semelhante às naturezas originais e esta realidade já era retratada, antes mesmo disso se concretizar em obras ficcionais, como Ubik. O último capítulo, a ser apresentado durante a defesa da dissertação, será dedicado ao estudo das máquinas e inteligência artificial.