Em Ciranda de pedra (2009), Lygia Fagundes Telles tece uma trama que não só expõe as fragilidades humanas e as relações familiares, como também desconstrói paradigmas. Diante disso, tem-se como objetivo desta dissertação compreender a transgressão das identidades de gênero mediante suas personagens. Em razão disso, ressalta-se que as identidades masculinas e femininas dos Anos Dourados, consoante Rocha-Coutinho (1994), tinham seus papéis sociais bem delimitados, uma vez que homens e mulheres deveriam desempenhar suas funções sociais de acordo com cada esfera de atuação pré-estabelecida, isto é, a eles reservava-se o espaço público e a elas, o privado. Com isso, definiam-se funções, exclusivamente, femininas, como ser mãe, e deveres masculinos, como o provimento do lar. Inobstante a isso, Saffioti (1987), reitera que esses espaços e práticas sociais naturalizam-se mediante processos socioculturais cuja finalidade era restringir a entrada das mulheres aos centros de poder. Nesse sentido, reduzir as mulheres a papéis sociais, trouxeram fardos para o sujeito feminino. Inclusive, consoante Engel (2017) acreditava-se que a loucura feminina estava “no organismo da mulher, na sua fisiologia específica” (p. 333), sendo os problemas mentais vistos como uma consequência dos desvios da sexualidade e da natureza maternal delas. Diante disso, por meio de uma pesquisa bibliográfica de método interpretativo, serão recorridas as contribuições teóricas de Badinter (1980), Rocha-Coutinho (1994), Saffioti (1987), Engel (2017), Pinsky (2014), Del Priore (2017), Scott (2011), dentre outros. Portanto, além de transgredir com as identidades de gênero dos Anos Dourados, Lygia vai descontruir em Ciranda de Pedra (2009) o perfil das relações familiares, questionando a naturalização de processo socioculturais, como a maternidade, assim como dará voz ao oprimido por meio da representação da mulher louca