Este trabalho tem como objeto de estudo a obra El Lute Camina o Revienta, de autoria do escritor espanhol, Eleutério Sánchez. A obra apoia-se em uma época catastrófica espanhola, compreendida entre, 1939 a 1975, denominada, Franquismo. Narrada em primeira pessoa, a personagem-protagonista, por meio de suas memórias, apresenta relatos de experiências de extrema violência. Com a análise, objetiva-se investigar a autoficção e a memória na obra corpus da pesquisa. Para isso, fez-se necessário uma aproximação à teoria da autobiografia como ponto de partida que tem em Philippe Lejeune (2008) as seminais postulações, em sequência, volta-se o estudo para à autoficção, apoiando-se no pacto ambíguo de Manuel Alberca (2007), com contribuições de Eurídice Figueiredo (2013) e Diana Klinger (2016). No debate sobre o Franquismo, buscou-se apoio nas contribuições de Julio Prada Rodríguez (2010); Julián Casanova (2002), Fernando García de Cortázar (2009). Sobre a questão da violência a fundamentação está assentada em: João Camillo Penna (2013), Jaime Ginzburg (2013), Michel Foucault (2013). No que concerne à memória a contribuição baseia-se em estudos de: Aleida Assmann (2011), Maurice Halbwachs (1990), Michel Pollak (1989), Jean Marie Gagnebin (2009) e Beatriz Sarlo (2007), além da contribuição da fortuna crítica sobre o autor, a obra e a temática aqui investigada. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica de cunho analítico qualitativo, sendo a investigação norteada pelas seguintes questões: de que forma se expressa a escrita autoficcional na narrativa? Como se apresentam na obra as memórias da personagem, El Lute e de que forma a autorrepresentação se estabelece nas suas recordações? As análise demonstram que El Lute Camina o Revienta, configura-se como uma narrativa autoficcional por apresentar-se em um campo, denominado por Leonor Arfuch (2010), de Espaço Biográfico,somando-se a isso verifica-se a autoficcionalização a partir das marcas do pacto ambíguo, acentuada por Manuel Alberca, a partir da identificação da identidade onomástica, que para ele é fundamental no pacto, ainda que ela se apresente implicitamente como também a hibridez entre vestígios biográficos e rememoração fragmentada proporcionando uma construção ficcionalizada na narrativa uma vez que trazer à tona momentos de exacerbada violência remete à uma impossibilidade de recordação integral e/ ou imaginária. Os resultados obtidos viabilizaram a percepção da autoficção como uma possível capacidade de inventar uma história a partir da própria vida e a fantasiá-la a partir de suas experiências e da dos outros, construindo assim uma nova aventura, conforme pontua Manuel Alberca.