Os estudos sociolinguísticos têm demonstrado que uma das características fundamentais das línguas naturais é a possibilidade delas variarem, assim, fenômenos de variação linguística merecem ser estudados e explicitados. O presente trabalho se situa na área da sociolinguística e tem por teoria base a Sociolinguística Variacionista, que encontra em Labov seu principal representante. Temos como tema a abordagem de um aspecto marcante da fala de uma comunidade do interior do Piauí, Baixio, em São José do Piauí, que se trata da substituição do pronome possessivo nosso pela expressão de nós. Assim, objetivamos investigar o uso da expressão de nós na fala dos habitantes da comunidade de Baixio em São José do Piauí-Pi, tendo como objetivos específicos: investigar os fatores que condicionam o uso da expressão de nós substituindo o possessivo nosso na variedade linguística utilizada pela comunidade Baixio em São José do Piauí-PI; identificar as variáveis linguísticas e as variáveis sociais que condicionam o uso da expressão de nós substituindo o possessivo nosso pelos moradores da comunidade; e analisar o contexto morfossintático em que os falantes da comunidade utilizam a expressão de nós em substituição ao possessivo nosso. Por meio de uma pesquisa prévia, constatamos que as análises que abordam a variação de pronomes centram-se em fenômenos de variação envolvendo o pronome tu, o pronome teu e o pronome nós, desse modo, a realização dessa pesquisa justifica-se, principalmente, por essa lacuna sobre a variação entre de nós e nosso, além de ela poder contribuir para amenizar o preconceito linguístico, ao mostrar que a variação linguística é algo inerente as línguas naturais. Para a obtenção do Corpus, realizamos uma pesquisa de campo, na qual foram feitas gravações com 32 informantes, agrupados em 4 células diferentes, levando-se em consideração a faixa etária, a escolaridade e o sexo/gênero. Essas gravações foram realizadas em duas etapas, inicialmente gravamos situações naturais de comunicação, depois fizemos gravações de falas obtidas por meio de entrevistas. Na teoria, fazemos a contextualização histórica da Língua portuguesa, tratamos sobre a Sociolinguística, a variação linguística, seus diferentes tipos e aspectos nela envolvidos, e tratamos ainda sobre o sistema pronominal do português brasileiro. De modo geral, os resultados mostram que os falantes mais jovens, do sexo/gênero masculino e com escolaridade tendem a utilizar a expressão de nós mais que o possessivo nosso e mais ainda que uma terceira opção, a forma da gente. Quanto aos aspectos sintáticos, a função sintática é determinante para o uso das variantes, a função de objeto indireto e de complemento nominal só podem ser exercidas por termos preposicionados, assim, essas duas funções inibem o uso do pronome nosso. No que diz respeito a anteposição e a posposição da variante ao elemento com o qual se relaciona, enquanto a variante nosso pode figurar nas duas posições, as formas de nós e da gente podem aparecer apenas na posição posposta. Analisamos ainda os usos das variantes levando em consideração o paralelismo formal, e notamos que, em sequências em que a noção de posse, no que se refere ao possessivo de primeira pessoa do plural, é transmitida mais de uma vez, as variantes de nós e nosso são sempre escolhidas para ocupar a primeira posição. Ainda quanto ao paralelismo, o possessivo nosso só aparece sendo utilizado isoladamente, como primeiro de uma sequência ou antecedido por ele mesmo, a forma da gente só aparece em duas situações, utilizada isoladamente ou antecedida pela expressão de nós, esta, por sua vez, figura em todas as posições, excetuando antecedida pela forma da gente. Para a realização do trabalho, nos baseamos em autores como, Monteiro (2000), Calvet (2002), Marconi e Lakatos (2003), Tarallo (2003), Mollica (2017), Naro (2004), Bortoni-Ricardo (2004, 2005, 2011), Faraco (2005), Gil (2008), Alkmim (2012), Camacho (2012, 2013), Labov (2008), e outros.