UM POETA PARTICULAR: ESTUDO ESTILOMÉTRICO DA POESIA DE H. DOBAL
H. Dobal. poesia. Estilometria informática.
Tendo em conta a discrepância entre o valor literário dos poemas de H. Dobal e sua apreciação por parte do público e da crítica, este trabalho buscou estudar o estilo de seus três primeiro livros, O Tempo Consequente, O Dia sem Presságios e A Província Deserta. Embora os poucos estudos consistentes sobre a obra do poeta piauiense já indiquem alguns recursos expressivos frequentes em sua poesia, não existe um voltado especificamente para o estilo, contexto que legitimou o escopo deste trabalho. Para investigar os traços estilísticos de H. Dobal foi utilizada uma metodologia diferenciada, a Estilometria Informática, que consiste na aplicação de métodos quantitativos para análise de textos literários utilizando ferramentas computacionais. Inicialmente foi necessário desenvolver o conceito de Estilística (GUIRAUD, 1978; MONTEIRO, 2005) para depois caracterizar a Estilometetria, diferenciado-a dos estudos de atribuição de autoria e da Programação em Linguagem Natural (PNL). Percebendo a estatística textual como uma ferramenta para investigação do estilo, verificou-se a viabilidade de dialogar com as duas grandes vertentes da Estilística: a Descritiva, de origem e inspiração linguística; e a Genética, que se dedica aos textos literários. Para obter os dados de estatística textual de forma rápida e precisa foi utilizado o software Lexico3, por este ser de uso livre e permitir o manuseio de praticamente qualquer texto. Como se baseia em números, o estudo estilométrico careceu de textos paramétricos, então foram selecionadas obras cujas primeiras edições são contemporâneas às publicações de H. Dobal: Claro Enigma (DRUMMOND, 2012), Educação pela pedra (MELO NETO, 1997), Faz escuro mais eu canto (MELLO, 2009); e Dentro da noite veloz (GULLAR, 2010). O primeiro passo da investigação estilométrica foi verificar a manutenção do estilo de H. Dobal nas três obras por meio de dados gerais dos textos, sendo que os resultados foram positivos em relação a essa hipótese, ensejando o estudo em conjunto. A seguir foi discutida a noção de riqueza vocabular, refutando o argumento da crítica de que Dobal possui um vocabulário pobre, já que a estatística textual apresenta valores equivalentes entre ele e a maioria de seus contemporâneos. Observou-se que os poemas de H. Dobal são em geral mais concisos que os dos outros poetas, embora não haja um padrão formal rígido. O poeta também é econômico na utilização de sinais de pontuação, especialmente a vírgula; mesmo assim representam recurso expressivo importante na poesia dobalina. Por último, verificamos uma ausência proposital da representação de primeira pessoa no singular, seja por pronomes ou verbos, e a utilização do plural para expressar a coletividade. Todos estes traços se complementam na poesia de H. Dobal, demonstrando perfeita relação de forma e conteúdo estabelecida pelo poeta. A estilometria se mostrou promissora, mas ainda necessita ser aperfeiçoada para dar conta do texto poético de uma forma mais eficaz.