O trabalho que se segue teve como intenção realizar a análise do romance O conto da aia, da escritora canadense Margaret Atwood, com a perspectiva da literatura como fonte de mudança material e revolução, através do viés teórico da crítica marxista. Dessa forma, juntamente com uma análise da fortuna crítica sobre o romance, as leituras de escritos de Marx e Engels a respeito de literatura e arte foram combinadas com as análises dos teóricos literários Terry Eagleton (2006, 2011) e György Lukács (2012), tendo como núcleo o conceito de materialismo histórico. Através deste, estudou-se a relação do romance em questão com o processo histórico de evolução do subgênero de ficção científica, por meio de leituras de Higgins (2009), Roberts (2011) e Tavares (1986), bem como depoimentos da própria autora a respeito de suas principais influências literárias. Realizou-se em seguida um estudo da influência do feminismo no romance, trilhando-se uma análise de diversas vertentes feministas, particularmente a vertente que tem como orientação política o marxismo, além de se realizar uma crítica dos aspectos pós-modernos que têm tomado conta da discussão sobre mulheres. Para isso, utilizaram-se, entre outras, Cinzia Arruzza (2019) e Silvia Federici (2019). Finalmente, as análises de Traverso (2018) a respeito da crise do marxismo e da subsequente e generalizada “melancolia de esquerda” (expressão que aparece no título do trabalho do autor utilizado nesta dissertação, e que fora anteriormente cunhada pelo teórico Walter Benjamin); bem como leituras de Bauman (2017), que criou o conceito de retrotopia baseando-se em sua análise política de tendências contemporâneas; e de Ziblatt e Levitsky (2018), particularmente seu estudo a respeito do perecimento de sistemas democráticos, fundamentaram uma interpretação alegórica de O conto da aia, enxergando-se o romance como uma alegoria de tendências políticas em tempos de crise do marxismo. Essa interpretação teve participação da estética do efeito de Wolfgang Iser (1996).