Esta pesquisa teve, como objetivo principal, analisar e explicitar as ideias linguísticas de acordo com Orlandi (2001, 2013) e Fávero e Molina (2004) elaboradas por quatro estudiosos brasileiros: 1) Soares (1942 [1874-1890]); 2) Nina Rodrigues (2010 [1890-1905]); 3) Raimundo (1933); e 4) Mendonça (2012 [1933]), a respeito da relação entre línguas africanas e sua contribuição para a constituição do Português Brasileiro (doravante PB), levando em consideração o aparato teórico e metodológico da Historiografia Linguística (HL), área de pesquisa que considera que o a construção do conhecimento linguístico se dá através de movimentos de continuidade e descontinuidade. Para tanto, será estabelecido, inicialmente, o clima de opinião (contextualização), de acordo com Koerner (2014), com o intuito de situar em que contexto essas ideias linguísticas foram elaboradas e divulgadas. Em seguida, será explicitada a rede de referência adotada pelos autores, com o objetivo de identificar as referências utilizadas por eles na construção do conhecimento linguístico sobre a influência exercida pelo aporte africano no PB. Além disso, buscar-se-á evidenciar o coletivo e o estilo de pensamentos (este último quando houver), de acordo com o que é proposto por Fleck (2010), na medida em que, para este autor, a construção do conhecimento acontece de maneira, lenta, coletiva e atrelada a um contexto histórico e social, por meio de avanços e retomadas, corroborando a concepção adotada nesta dissertação com relação ao desenvolvimento e construção do conhecimento sobre a língua e a linguagem. Finalmente, serão estabelecidas as relações de continuidade e descontinuidade (KOERNER, 2014) existentes entre as ideias linguísticas aqui analisadas. Levando isso em conta, escolheu-se duas categorias de análise: 1) o argumento da influência (KOERNER, 2014; BATISTA, 2013; NASCIMENTO, 2005); e 2) a retórica do autor (BATISTA, 2019). Para o cumprimento dessas categorias, serão utilizadas algumas etapas analíticas, as quais são sugeridas por Koerner (2014), no caso do argumento da influência; e por Batista (2019), no caso da retórica do autor, para que haja o melhor aproveitamento de ambas. São elas: 1) o estabelecimento do clima de opinião (apontado anteriormente); 2) a explicitação da formação intelectual dos autores; e 3) o reconhecimento público (utilização de referências diretas por determinado autor em relação ao nome de outros estudiosos); 4) quem está falando sobre língua? (produtor do conhecimento linguístico); 5) que conhecimento foi produzido sobre a língua?; 5) para quem esse conhecimento foi elaborado?; e 6) de que maneira esse conhecimento é veiculado?. As três primeiras etapas devem ser aplicadas no momento da análise do argumento da influência e, as demais, na análise da retórica do autor. As análises apontam que a as ideias linguísticas analisadas foram desenvolvidas a partir de movimentos de continuidades e descontinuidades, refletindo não só o clima de opinião no qual foram produzidas, como também a rede de referência utilizada por seus produtores, as quais se mostraram diversificadas e abrangentes, na maioria dos estudos. Com relação ao coletivo de pensamento, concluiu-se que ele era constituído, tanto no contexto mais geral (social, intelectual e histórico) como linguístico, pelas discussões sobre raça (teorias e doutrinas raciais, principalmente) e pelo debate sobre a questão da língua no Brasil. Já em relação ao estilo de pensamento dos estudiosos, foi possível notar, naqueles identificados, maneiras distintas na abordagem da tem.