Esta dissertação analisa a obra Diário de Bitita, da autora Carolina Maria de Jesus, partindo da problemática: Como a escolha do conceito de escrevivência, termo cunhado pela escritora e pesquisadora Conceição Evaristo, tomado como operador teórico para a leitura de obras da Literatura de Autoria Feminina Negra Brasileira, auxilia na interpretação da obra Diário de Bitita?. Sobre a justificativa é válido recorrer ao que concerne à autora, de na maioria das vezes, ser reconhecida, unicamente, por seu sucesso editorial Quarto de Despejo: diário de uma favelada. Dessa forma, a pesquisa aqui proposta volta-se para a obra selecionada, por meio de um olhar de caráter literário, o que diferencia das abordagens, de maior número, a respeito da obra, as quais se dirigem ao caráter autobiográfico e memorialístico. Assim, objetiva-se, de modo geral, interpretá-la a partir do conceito de escrevivência tomado enquanto operador teórico. E, especificadamente: a) discutir o problema da representação e o conceito de expressão; b) dialogar sobre a escrevivência na Literatura e Pesquisa Feminina Negra-Brasileira; c) interpretar esse conceito, na narrativa em questão, como expressão da mulher negra. Tais objetivos foram elencados partindo da hipótese de que essa forma de leitura, observando a expressão da narradora testemunha e protagonista (FRIEDMAN, 2002), constrói bases para um quadro mais amplo de interpretação da Literatura de Autoria Feminina Negra Brasileira da contemporaneidade. A metodologia com a pesquisa qualitativa e bibliográfica pautou-se no processo de operacionalização do conceito escrevivência, utilizando elementos de leitura específicos para a interpretação da obra. Para isto, selecionamos como componente narrativo a voz da narradora e os espaços que ela percorre. Ao destinar o olhar para a estrutura narrativa, recorremos a Todorov (2003). Quanto à tipologia, dialogamos com Friedman (2002). Em relação aos espaços percorridos, a Borges Filho (2007) e a Tuan (1983). Quanto ao lugar de onde se enuncia, formulando e ampliando conhecimento, recorremos a Glissant (2005) e Collins (2019). Relacionamos alguns conceitos abordados, prioritariamente, por Deleuze e Guattari (1997), Rancière (1998), Spivak (2010), a exemplo do que concerne: à escrita da mulher negra, como em Alves (2010); à escrevivência apoiado sob o prisma de Lívia Natália (2018), Evaristo (2010a), Evaristo (2010b). Assim, a investigação sobre o referencial segue as epistemologias negras, como o que é apresentado por: Akotirene (2019); Carneiro (2011); Collins (2016, 2019); Gonzales (1983); Davis (2016, 2017); bell hooks (2019a), bell hooks (2019b). Dessa forma, o método utilizado para a realização do trabalho proposto é interpretativo comparativo, seguindo o “paradigma da interseccionalidade” (COLLINS, 2019, p. 403). Com isso, no trabalho científico proposto consideramos não somente a obra escolhida para análise, como também é feita a relação com outras obras da contemporaneidade.