As figurações da contemporaneidade tem sido um dos recursos mais empregados pelas produções literárias recentes. Em função de seu caráter denso e heterogêneo, a vida cotidiana hodierna figura como rica matéria para o universo ficcional, de modo que é muito difícil desvincular a literatura contemporânea das práxis sociais e da condição urbana que assinalam o nosso tempo. Budapeste (2003), terceiro romance de Chico Buarque, é bastante ilustrativo nesse sentido, pois nele aparecem um modelo bem delineado de sociedade contemporânea e a configuração do sujeito pós-moderno, com todas as suas nuances e subjetividade, que a integra. A cidade, por sua vez, ganha destaque e figura como espaço por excelência, visto que nele as personagens se deslocam e criam vínculos afetivos. Dessa maneira, a presente dissertação investiga o modo como esses aspectos históricos, sociais, culturais e humanos se convertem em um componente literário, através de um processo que Antonio Candido denominou de redução estrutural (ou formalização), permitindo que a estrutura literária seja analisada de maneira autônoma. Nesse sentido, aqui se analisa o espaço ficcional pelo viés específico da redução estrutural, buscando compreender o modo como essa redução opera em espaços íntimos, espaços burocráticos e espaços de recordação. Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se como aporte teórico trabalhos que versam sobre a integração da literatura com a sociedade, como Candido (2015; 2019), Schwarz (1999) e Lukács (2009); sobre a memória cultural e social, como Assmann (2011), Candau (2018) e Halbwachs (2003); sobre a vida cotidiana, como Sarlo (2014) e Certeau (2014); sobre o espaço citadino, como Lefebvre (2000), Argan (2005) e Benjamin (2000), entre outros. Pode-se afirmar que Chico Buarque, por meio do processo de redução estrutural, imprime à categoria do espaço presente na narrativa ficcional uma visão de sociedade que pretende
ser um retrato da vida contemporânea.