Esta dissertação analisa a obra A redoma de vidro, da escritora Sylvia Plath, trilhando pela problemática da presença das marcas subjetivas do relato autobiográfico ou autoficcional da trajetória de vida da autora e a relação dessas com o exercício da escrita de si e fora de si no romance. Para este feito, há que se considerar a existência de uma relação de identidade entre o sujeito que escreve, aquele sobre quem se escreve e aquele que nos relata os acontecimentos. A escrita autobiográfica ou autoficcional tem como pressuposto trazer refletidos na obra aspectos comprovados da realidade de seu autor. A biografia da escritora norte-americana Sylvia Plath é marcada por um longo histórico de manias, crises depressivas, períodos de internações em hospitais psiquiátricos e sucessivas tentativas de suicídio. A redoma de vidro constitui o único romance publicado por ela, uma vez que sua maior produção literária é composta por obras poéticas ganhando destaque os livros The Colossus and Other Poems (primeira coleção de poemas da autora, publicado em 1960) e Ariel (seu último livro, publicado postumamente em 1965). No referido romance, encontram-se narrados pela perspectiva da narradora-personagem, Esther Greenwood, fatos vividos por ela que ecoam exatamente a biografia de Sylvia Plath. Eventos que denunciam uma vida de inadequações a contextos que reprimem a personalidade livre e poética tanto de uma quanto de outra, levando-as a mergulhar no escuro calabouço da depressão. Assim, tomando por base a escrita autobiográfica, tentar-se há neste trabalho analisar a interferência do quadro de adoecimento psicológico no acionamento de uma subjetividade promotora da escrita de si e fora de si. Para tanto, a base teórica é constituída, dentre outros, por Alberca (2007), Lejeune (2008) e Figueiredo (2013) para as discussões sobre a escrita autobiográfica; Foucault (1992), Freud (1976), Durkheim (1999) e Costa (2020) no campo das discussões psicológicas e escrita fora de si; já para os estudos de memórias, Izquierdo (2018), Walbwachs (1993) e Pollak (1992). Nesse trajeto, compreende-se que o estado depressivo de um eu que escreve sobre si tende a marcar subjetivamente seu texto autoficcional e mostrando um sujeito fora de si.