No presente trabalho nos propomos a realizar um estudo estilométrico da ficção científica criada pela autora estadunidense Ursula K. Le Guin na série conhecida por Hainish Cycle. A pesquisa visa encontrar possíveis marcadores de estilo narrativo próprios da autora ao longo da série, que engloba um espaço temporal de cerca de trinta e cinco anos entre a primeira e a última publicação, bem como possíveis mudanças em seu estilo. Utilizamos como objeto de estudo três romances da autora: Rocannon’s World (1966), The Dispossessed (1974), e The Telling (2001). De acordo com pesquisas como as feitas por Pennebaker, alguns fatores naturais, como a idade e o gênero do autor, são perceptíveis nas formas como escrevem. Dessa forma, mulheres e homens possuem formas diferentes de transmitir mensagens, quando observamos o uso de preposições e pronomes, por exemplo. Para nosso estudo, utilizamos uma abordagem diversa daquela normalmente é utilizada em estudos literários; utilizamos ferramentas computacionais, como o Neolo, Lexico 5, Voyant Tools e AntConc para a coleta de dados. Essa técnica, também conhecida como distant reading, tem como proposta incorporar aos estudos literários uma abordagem quantitativa, onde conseguimos transformar em dados e números o texto pesquisado. Através dos dados coletados é possível observar padrões e desvios dos autores de forma a decifrar suas “impressões digitais”: determinados usos da língua que possam nos mostrar como ele consegue transmitir suas ideias de maneira única, de tal forma que seja possível identificar sua escrita, não importa qual seja o texto. No caso de Le Guin, conseguimos constatar que houve uma mudança sensível em relação ao uso de contrações (muito comuns no inglês informal), palavras negativas e mesmo no comprimento de sentenças, marcas do passar dos anos em sua ficção. Pudemos observar, também graças a análise estilométrica, que Le Guin adota cada vez mais o uso do gênero feminino ao longo dos romances, entrando em acordo com as pautas feministas que autoras de ficção científica passam a defender a partir da década de 1970.