A especificidade de ser a literatura infantil de temática afro-brasileira de autoria feminina negra, uma poética insubmissa, potencializa nossas perspectivas investigativas, pois além de literatas, essas mulheres negras contribuem com um escopo teórico e analítico, cunhando categorias e dispositivos que servem de subsídios para que se compreenda suas poéticas. A partir desse cenário, a problemática central e as primeiras motivações se deram em virtude da necessidade de um levantamento das produções literárias infantis dessa autoria, cujas narrativas de vida e escrevivências são transpostas para o texto literário como mecanismo de empoderamento, de (auto)conscientização e de (auto)pertencimento, pois tal especificidade – a escrita feminina negra - traz para o texto literário atitudes e práticas que coloca a experiência de ser e estar negro(a) no Brasil e todos os seus amálgamas como motivo e projeto de produção literária, resultando em uma desobediência epistêmica na ruptura com o sistema colonial. (MALDONADO-TORRES et al, 2019; DUARTE, 2014; SANTOS, 2018; MIRANDA, 2019). Nesse sentido, objetivando suscitar respostas utilizaremos como pontapé inicial o contradiscurso literário e crítico contemporâneo, que é enviesado por uma perspectiva teórica decolonial, para investigar a autoria feminina negra e como essa representa suas personagens interseccionalizando raça, gênero e classe. Como aporte teórico, recorremos às discussões de Candido (1962; 1989; 1999; 2006; 2011), Bosi (2002; 2005; 2015), Santiago (2000; 2018), Dalcastagnè (2012; 2015; 2018), Coelho (1991; 1993; 2000; 2006), Zilberman (2003; 2010; 2014), Collins (2019), Evaristo (2006b; 2010; 2011c), Cuti (2010), Debus (2017), Miranda (2019), entre outros. Enquanto metodologia, a pesquisa é básica, de natureza qualitativa, caracterizada como análise-crítica, precedida de revisão bibliográfica das categorias selecionadas, dialogando com o corpus literário selecionado que, por sua vez, confronta diversas perspectivas e vozes. Intenta-se, como resultado do trabalho, contribuir para os estudos sobre a literatura infantil contemporânea, principalmente no que diz respeito à tematização afro-brasileira e feminina, considerando a especificidade autoral de serem todas elas mulheres e negras, inscritas em um projeto político-acadêmico de poéticas decoloniais a partir da interseccionalidade, objetivando, através do texto literário infantil, a superação dos amálgamas sociais que acometem milhões de negros(as) em situação de vulnerabilidade social, psíquica e interditados em suas identidades.