A presente dissertação tem como objetivo geral: pesquisar os aspectos ligados aos estudos de metaficção historiográfica, gênero e alienação no romance epistolar Carta à rainha louca (2019), de Maria Valéria Rezende (MVR). E, de modo específico: analisar como MVR constrói uma personagem-escritora revisitando a tradição de escrita epistolar realizada por mulheres; investigar a história do Brasil colonial do século XVIII, pela ótica feminina existente no romance, através da metaficção historiográfica; bem como averiguar relações entre gênero e (in)sanidade, com base no relato da protagonista Isabel das Santas Virgens. Assim, buscamos examinar, através de Isabel, uma visão feminina do Brasil do século XVIII, focando em uma espécie de não-lugar para mulheres brancas e pobres em um contexto colonial. De acordo com Hutcheon (1991), a metaficção historiográfica se caracteriza pela apropriação de personagens e/ou de acontecimentos históricos, problematizando eventos que são tidos como verídicos. Como se sabe, a História foi por muito tempo narrada fundamentalmente sob uma perspectiva europeia, branca e masculina, portanto, a metaficção historiográfica se volta para o passado encarando-o de um modo diferente, através de perspectivas ex-cêntricas, como a de uma mulher enclausurada e tida como louca, conforme apresentado no romance. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico e utilizamos como aporte teórico as investigações de Diaz (2016), Haroche-Bouzinac (2016), Showalter (1994), Scott (2019), Del Priore (1994; 2019), Hutcheon (1984; 1991), Krause (2010), Zanello (2018), Engel (2018), entre outras. Dessa forma, constatamos que as questões abordadas no romance se mostram ainda muito pertinentes de serem analisadas na contemporaneidade, tanto para se ter uma visão mais ampla do passado, como, principalmente, para compreender e refletir sobre as desigualdades e violências contra as mulheres que ainda persistem.