Este estudo se propõe a compreender como se dá a reconstrução de dois fenômenos na obra Os Tambores de São Luís, de Josué Montello: a identidade negra e a história. Para isso delimitamos, como procedimento metodológico inicial, o que denominamos de problematização do espaço literário, que consiste em discutir, a partir de um corpus teórico, as relações (interações) entre o personagem protagonista e o espaço na narrativa. Nesse sentido, delineamos como objetivos específicos analisar a problematização do espaço literário representado na obra, a partir de sus relações com o personagem; investigar como a memória atua na estrutura interna da obra e dialoga com os demais elementos da narrativa e examinar a forma de representação da identidade negra e reconstrução da história. Publicada em 1976, pelo escritor maranhense, a obra consiste em um romance histórico contemporâneo sobre a escravização do negro no Brasil, centrando-se na representação da história de vida do protagonista Damião. O romance histórico (RH) sofreu várias transformações, as quais resultaram no romance histórico contemporâneo (RHC), um novo gênero que apresenta mudanças em relação às pontes estabelecidas com a história, voltando-se não para a mera exposição dos fatos históricos, mas para uma revisitação reflexiva do passado. Por meio da obra analisada somos levados a pensar sobre as formas de apresentação da história e também das representações da identidade negra que se construíram ao longo do tempo, que contribuíram muitas vezes para a reafirmação e permanência de estereótipos que dificultam a percepção da importância do negro na criação de patrimônio econômico, histórico, cultural e social. Trata-se de uma pesquisa analítico-exploratória de cunho bibliográfico, fundamentada nos seguintes aportes teóricos: Borges Filho (2007), Tuan (1983), Tuan (2015), Asmann (2011) e Brandão (2013), para estudo do espaço literário; Asmann (2011), com apoio de Halbwachs (2003), Le Goff (2013) e Candau (2016), para compreensão da memória/recordação. A identidade negra é pautada em uma análise que busca discutir a identidade do negro como uma junção complexa em todas as suas possibilidades, levando-se em conta, sobretudo, aspectos sociopolíticos. Para isso, como fundamentação discursiva, selecionamos os seguintes teóricos racializados: hooks (2019a, 2019b), Kilomba (2019) e Munanga (1988), sendo que a discussão crítica da obra contempla autores que abordam aspectos relacionados ao contexto histórico da escravidão. A análise está embasada no diálogo entre literatura e história a partir do espaço literário, elemento cuja compreensão é essencial para se compreender todo o contexto de construção e interpretação de uma obra literária.