A especificidade de ser a literatura infantil de temática afro-brasileira de autoria feminina negra uma poética insubmissa, potencializa nossas perspectivas investigativas, pois, além de literatas, as mulheres negras contribuem com suas intelectualidades, cunhando categorias e dispositivos que servem de subsídios para que compreendamos suas poéticas. A partir desse cenário, a problemática central e as primeiras motivações se deram em virtude da necessidade de um levantamento das produções literárias infantis de mulheres negras, cujas narrativas de vida e escrevivências são transpostas para o texto literário como mecanismo de empoderamento, de (auto)conscientização e de (auto)pertencimento, pois tal especificidade – a escrita feminina negra - traz para o texto literário atitudes e práticas que colocam a experiência de ser e estar negra no Brasil e todos os seus amálgamas como motivo e projeto de produção literária, resultando em uma desobediência epistêmica na ruptura com a Colonialidade/Modernidade. Nesse sentido, objetivando suscitar respostas, utilizaremos como pontapé inicial o contradiscurso literário e crítico contemporâneo, que é enviesado por uma perspectiva teórica decolonial, para investigar a autoria feminina negra e como essa representa suas personagens interseccionalizando raça, classe e gênero. Como aporte teórico, recorremos às discussões de Candido (1962; 1989; 1999; 2006; 2011), Bosi (2002; 2005; 2015), Santiago (2000; 2018), Dalcastagnè (2012; 2015; 2018), Coelho (1991; 1993; 2000; 2006), Zilberman (2003; 2010; 2014), Collins (2019), Evaristo (2006b; 2010; 2011c), Cuti (2010), Debus (2017), Miranda (2019), Maldonado-Torres (2019), Spivak (2010), González (2020) entre outras(os). Enquanto metodologia, a pesquisa é básica, de natureza qualitativa, caracterizada como análise-crítica, precedida de revisão bibliográfica. O corpus literário selecionado confronta diversas perspectivas e vozes, a saber: O menino Nito -: então o homem também chora? (2011 [1995]), de Sonia Rosa; Histórias da Preta (2005 [1998]) e O Marimbondo do Quilombo (2010), de Heloisa Pires Lima; Entremeio sem babado (2007) e Minha mãe é negra sim (2008), de Patrícia Santana; Betina (2009) e O menino coração de tambor (2013), de Nilma Lino Gomes; Kuami (2011), de Cidinha da Silva; O mundo no black power de Tayó (2013), de Kiusam de Oliveira e As férias fantásticas de Lili (2018), de Lívia Natália. Intenta-se, portanto, contribuir para os estudos sobre a literatura infantil contemporânea, principalmente no que diz respeito à tematização afro-brasileira, considerando a especificidade autoral de serem todas elas mulheres e negras, inscritas em um projeto político-acadêmico de poéticas decoloniais a partir da interseccionalidade, objetivando, através do texto literário infantil, a possibilidade de superação dos amálgamas sociais que acometem milhões de negros(as) em situação de vulnerabilidade social, psíquica e interdição identitária.