Inserido no escopo da Historiografia Linguística (doravante, HL), este Projeto de Pesquisa tem como objetivo geral analisar contrastivamente os fenômenos da Colocação Pronominal (doravante, CP) e da Voz Passiva Sintética (doravante, VPS) em gramáticas normativas brasileiras do século XX em contraste com os usos praticados em textos da esfera acadêmica e jurídica, a fim de verificar o comportamento desses fatos linguísticos na modalidade formal escrita do português brasileiro, com vistas a propor uma revisão da norma-padrão, considerando os dois fatos sintáticos em tela. Para tanto, estabelecemos os seguintes objetivos específicos: (i) rastrear, segundo o princípio da contextualização, o clima de opinião em que se instaura o estabelecimento de normas no Brasil, trazendo à baila alguns fatos históricos e sociais que podem oferecer uma compreensão dos (des)caminhos normativistas desde a sua gênese; (ii) analisar, consoante o princípio da imanência, nas gramáticas selecionadas, a escolha de retórica dos autores, a fim de verificar possíveis movimentos de continuidade e de descontinuidade relacionados às regras de VPS e de CP e a outras possíveis discussões realizadas por eles sobre esses fenômenos; (iii) produzir, valendo-se de noções da Linguística de Corpus, um corpus representativo da modalidade escrita formal do português brasileiro, constituído por textos acadêmicos e jurídicos, publicados no século XXI, com vistas a catalogar ocorrências de VPS e de CP; (iv) investigar, nos corpora selecionados, o nível de coincidência (ou não) entre os usos linguísticos e as prescrições gramaticais, com vistas a examinar as motivações linguísticas que podem justificar as ocorrências de VPS e de CP; (v) propor um guia orientador, constituído a partir da observação da realidade empírica, que possa servir como uma possibilidade (entre outras) para a compreensão dos fatos linguísticos de VPS e de CP e, consequentemente, oferecer caminhos para a abordagem destes; (vi) contribuir para a ampliação das pesquisas científicas acerca da caracterização do padrão escrito em uso, visando a descrições mais autênticas da realidade linguística do Brasil. Diante desses objetivos, tomamos como objetos de análise: (i) sete gramáticas brasileiras produzidas no século XX, em suas últimas edições, a saber: Said Ali (1969 [1924]), Silveira Bueno (1968 [1944]), Rocha Lima (2014 [1957]), Bechara (2019 [1961]), Melo (1978 [1967]), Luft (2002 [1976]) e Cunha e Cintra (2017 [1985]); e (ii) um corpus representativo da modalidade escrita formal do português brasileiro, constituído por textos dos domínios acadêmico (teses, dissertações) e jurídico (decisões monocráticas), produzidos no decorrer do século XXI. As análises serão feitas em consonância com os princípios historiográficos da contextualização e da imanência (KOERNER, 2014 [1995]); com o modelo de continuidade e descontinuidade (KOERNER, 1989); e com a categoria analítica escolha de retórica (MURRAY, 1994; BATISTA, 2019). Serão usadas, ademais, em momentos pontuais da pesquisa, algumas noções da Sociolinguística Variacionista, para fins de contextualização e de análise dos corpora.