Neste capítulo, analiso o romance Hag-Seed, de Margaret Atwood, publicado em 2016, sob a perspectiva pós-colonial – aliada à feminista. Esse romance de Atwood é uma reescritura da peça shakespeariana A tempestade e o foco aqui apresentado recai sobre a personagem feminina Miranda, que, mesmo morta, é interpelada pelo discurso colonizador do pai (Felix), ainda que só em pensamentos. A base teórica fundamenta-se nas ideias de Rich (1972, p. 18), que apresenta a reescrita como “um ato de sobrevivência”. Para a autora, a reescritura é uma ferramenta que desestabiliza as construções identitárias ditadas pelo discurso hegemônico, desenvolvendo novos pontos de vista para que as regras possam ser subvertidas e, até mesmo, quebradas. Escritoras feministas começaram então a reler o cânone literário e reconsiderar criticamente livros que foram importantes para o controle social de mulheres e povos colonizados. Dada a semelhança entre o pós-colonialismo e o feminismo, enquanto projetos políticos, ao se encontrarem, ambos buscam operar como uma estratégia de leitura, buscando subverter as exclusões de um cânone não pela substituição de um grupo de textos por outros, mas pelo conjunto de práticas de leituras alternativas (FUNCK, 2016), tal como a que se oferece neste estudo. representações literárias de mulheres levando em conta tanto o sujeito quanto o meio de representação”. Assim, os fundamentos pós-coloniais e feministas viabilizaram uma consonância entre seus componentes de análise crítica e favoreceram o aparecimento de considerações socioculturais articuladas, possibilitando a eclosão de vozes silenciadas. Os debates fomentados pela teoria pós-colonial possibilitam a reflexão sobre o lugar das mulheres na contemporaneidade, a transversalidade da questão de gênero e os vários sujeitos resultantes do feminismo. Nesse sentido, este capítulo se circunscreve às discussões do feminismo e da reescrita pós-colonial e busca compreender o processo de reescritura da personagem feminina Miranda, do romance Hag-Seed, de Margaret Atwood. Assim fundamentada, a discussão aqui se encaminhará na busca em compreender os modos de sujeição do discurso falocêntrico.