Neste capítulo analiso os mecanismos de espacialidade nos poemas do autor surdo Edvaldo Santos, conhecido como Edinho Poesia, publicados em páginas disponíveis na web, a fim de evidenciar possíveis relações entre o espaço delineado nessas produções e os aspectos da realidade política, social e cultural do povo surdo. Os poemas serão explorados a partir do conceito de Rasura, de Jacques Derrida e do conceito de Heterotopia, de Michel Foucault, uma vez que esses conceitos abrangem diversos aspectos da esfera espacial no campo literário, como a sua composição simbólica, as relações que estabelece com a cultura e a sociedade, a dimensão afetiva, as projeções de sentido, as formações discursivas, dentre outros. Do ponto de vista teórico-metodológico o capítulo encontra-se amparado em Karnopp (2010), Quadros (2019), Borges Filho (2020), Foucault (2020), etc. A partir desses pressupostos, priorizamos a análise do espaço nos poemas em questão considerando que estes são representativos para a valorização da língua de sinais e identidade dos surdos, ao passo que contribuem para a ampliação do debate e para o fortalecimento desses sujeitos na busca pelo respeito à sua cultura. O corpus documental foi composto por poemas sinalizados produzidos pelo autor e publicados no Youtube. Assim, analisamos os seguintes poemas: “Negro surdo”, o qual é retratada a violência sofrida por pessoas surdas nos espaços citadinos; “O sistema”, no qual o autor faz uma reflexão sobre a imposição do sistema para o uso da língua portuguesa, evidenciando a importância para a língua de sinais. Por fim, examinamos a militância política e reconfiguração espacial proporcionada pela performance por meio da análise de “O mudinho”, no qual são retratadas situações de preconceito referentes à sua condição física.