No presente trabalho, fazemos uma análise crítica do discurso de mulheres vítimas de violência de gênero em depoimentos anônimos postados no perfil “Mas ele nunca me bateu”, da rede social Instagram. A opção pelo estudo do discurso dessas mulheres surgiu da relevância de compreender o processo de construção de identidades sociais estudando as justificativas usadas para explicar a sujeição à violência. Para tanto, levamos em consideração a formação sócio-histórica brasileira, os posicionamentos assumidos frente aos seus papéis sociais nos relacionamentos amorosos e as ideologias machistas presentes em suas narrativas. A partir de uma abordagem transdisciplinar, adotamos como base de nossa investigação os postulados da Análise de Discurso Crítica (ADC), promovida por Fairclough (2001, 2003a), por se tratar de uma teoria do discurso orientada socialmente e que tem como foco a transformação social, sendo o discurso aqui analisado por três dimensões: pragmática, argumentativa e ideológica. Também utilizamos como referencial teórico os estudos sobre as relações entre linguagem e gênero de Susana Funk e Nara Widholzer (2005), Viviane Heberle (2000), Moita Lopes (2002), Izabel Magalhães e Maria Christina Leal (2003), Marina Figueiredo (2014), Zoppi Fontana (2017) e Ana Paula Diniz (2018), bem como os estudos de Cecília Amaral (2001), Maria Filomena Gregori (1993) e Miriam Grossi (1991) sobre a construção de gêneros a partir do discurso de mulheres vítimas de violência. Dessa forma, nos baseamos numa proposta capaz de relacionar os recursos linguísticos e as particularidades em que a interação discursiva se insere, levando em consideração a relação dos signos com as coisas e com os seus usuários para que seja possível a compreensão dos sentidos produzidos nos discursos. A presente análise estuda a função desempenhada pelo discurso na sociedade, focando em relações de dominação, poder e desigualdade presentes na construção de identidades sociais.