A presente pesquisa tem como abordagem principal o devir-negro nos termos de Achille Mbembe (2014). Adota-se o prefácio como metodologia por meio da qual propõe-se o diálogo entre a obra de Geni Guimarães e outras pertencentes a um quadro mais amplo de literatura afro-brasileira, pressupondo a formação de um campo literário como ato político e em filiação às noções desenvolvidas por Édouard Glissant (2005). O corpus basilar é A cor da ternura (1998) e o conto “Fim dos meus natais de macarronadas”, de Geni Guimarães, em interlocução com a contística elaborada por autoras como Elizandra Souza, Serafina Machado, Dirce Pereira do Prado, Mel Adún, Míghian Danae, Lílian Paula Serra e Deus, dentre outras. O objetivo geral reside em compreender o processo de construção identitária e o devir-negro de protagonistas infantis em um corpus de contística negra brasileira contemporânea tomando a obra de Geni Guimarães como prefácio. Além disso, a interseccionalidade é empregada como epistemologia auxiliar ao exame do devir-negro de acordo com Patrícia Hill Collins (2019), rumo à compreensão das construções identitárias em caráter provisório e processual. Argumenta-se acerca do problema de pesquisa, a saber: de que maneira a violência pode ser utilizada como operador teórico para a compreensão de construções identitárias de protagonistas negras infantis nos contos de autoria feminina afro-brasileira contemporânea? Atende-se ainda à hipótese de que a dor provocada pelo discurso racista localizável na obra de Geni Guimarães constitui topos para a compreensão das construções identitárias em uma contística negra e contemporânea. A pesquisa estabelece intertextualidade com a sociologia, psicologia, educação, antropologia, filosofia e outras ciências que cooperam para que o conjunto das análises textuais cumpram o projeto traçado. As narrativas abrigam protagonistas infantis que convivem em espaços ora nutridos pela maternidade, pelo amor e pela família como alicerces a um crescimento saudável, ora assinalados pelas opressões em caráter interseccional. Constata-se que a restauração de identidades rasuradas perpassa, muitas vezes, o campo do fortalecimento pessoal e do autoamor oriundos do apoio familiar.