A presente tese possui como objetivo principal analisar as relações estabelecidas entre o cronotopo bakhtiniano e a perspectiva foucaultiana de poder na obra de José Saramago. Para tanto, identificamos os cronotopos nos romances Levantado do chão (1980), Ensaio sobre a cegueira (1995) e Ensaio sobre a lucidez (2004) e analisamos como eles são construídos histórico, político e ideologicamente para, posteriormente, discutir como eles engendram questões relacionadas ao poder na contemporaneidade, especialmente as questões relativas ao poder coercitivo no campo e na cidade. Com isso, buscamos obter um panorama das obras de Saramago e estabelecer as diferenças entre as duas vertentes da sua romancística pós-período formativo, no que se refere às relações de poder exercidas contra e pelos ex-cêntricos dentro dos cronotopos. Nessa seara, o autor-narrador saramaguiano possui importância decisiva através do seu posicionamento irônico, crítico e participativo. Com esse propósito, os conceitos de espaço e poder serão operacionalizados metodologicamente sob a luz dos princípios da Literatura Comparada para esclarecer determinadas relações em torno do fenômeno da criação literária que serão articulados com conceitos da sociologia, da geografia, da história e da cultura com os princípios fundamentais da Teoria da Literatura. Iniciaremos nossa discussão a partir do conceito de redução estrutural proposto por Antonio Candido, entendendo o cronotopo como um mecanismo de formalização do universo artístico a partir da observação do mundo extraliterário. Por fim, a partir de uma relação direta entre espaço- tempo e poder no campo e nas cidades, concluímos que o poder está materializado na tessitura do espaço-tempo produzido e reproduzido para que a disciplina dos corpos, o discurso de verdade e a ordem possam ser operacionalizados pela classe dominante.