AIDS NO CARNAVAL: em cartaz, um diálogo bakhtiniano sobre tema e leitor presumido”.
Cartaz. AIDS. Conteúdo Temático. Leitor Presumido. Gêneros Discursivos.
O número de pessoas, no Brasil, infectadas pelo vírus HIV é crescente a cada ano, mesmo com a grande quantidade de informações divulgadas pelos meios de comunicação, entre os quais, destacamos em nosso estudo os cartazes das campanhas publicitárias de combate à AIDS. Refletindo acerca dessa problemática é que a presente pesquisa consiste em investigar a maneira como é abordada a temática da AIDS e de que forma são construídos os leitores presumidos nos discursos materializados, linguístico e imageticamente, através dos cartazes de luta contra à AIDS desenvolvidos no período do carnaval a partir do ano de 1999 até 2013 e distribuídos pelo Ministério da Saúde. Neste trabalho, baseamo-nos, prioritariamente, nos pressupostos teóricos do Círculo de Bakhtin (2012[1929]; 2011[1979]; 2010[1975]; 1976[1926]) concernente aos gêneros do discurso, que desenvolve suas bases epistemológicas refletindo sobre a natureza socioideológica e discursivo-dialógica da linguagem. Subsidiando essa linha de pensamento, encontramos nas teorias da esfera publicitária autores como HOLLIS (2010) e MOLES (1974) que tratam da construção histórica e estilística do gênero cartaz, bem como, SANT’ANNA (2006) que discute quanto à retórica visual envolvendo a articulação dos elementos verbo-visuais, de modo estratégico, com o intuito de construir uma realidade que atenda ao projeto discursivo do autor-criador. Seguindo a abordagem sociológica bakhtiniana, partimos, inicialmente, da contextualização histórico-cultural em que o gênero cartaz encontra-se inserido, de modo a analisar o enunciado a partir de sua realidade concreta que acontece através da interação social entre os sujeitos da enunciação, ressaltando, assim, as posições valorativas e axiológicas que são percebidos na construção dos sentidos do gênero discursivo. A análise qualitativa sócio-interacionista do corpus da pesquisa composto por 21 cartazes, que fazem parte das peças publicitárias de 15 campanhas de combate à AIDS produzidas pelo Ministério da Saúde de 1999 a 2013, permitiu-nos constatar que o conteúdo temático do gênero em estudo é construído, predominantemente, por um discurso orientado para a responsabilização individual da doença, abstendo-se o Estado da suaresponsabilidade social em relação à prevenção da saúde pública. Percebemos também, em nossas investigações, que o público-alvo determinado pelo Ministério da Saúde, em sua grande maioria, não corresponde aos leitores presumidos construídos nos cartazes através da inter-relação decomplementaridade entre os recursos verbais e pictóricos que compõem os textos.