Mímesis e Poiesis nos cantos V e VI de Os Lusíadas de Luís de Camões.
Mímesis; Lusíadas; Épico; Plasticidade.
Este trabalho investiga como ocorre a representação do real no poema épico Os Lusíadas de Luís de Camões. Parte-se da hipótese de que a épica camoniana é uma remodulação dos feitos lusitanos que tenta eterniza-los, redimindo-os do esquecimento, e que por isso estes são apresentados com alta plasticidade. O conceito de mímesis que pressupõe um vínculo entre uma cena orientadora, frequentemente intitulada real, e um quadro ficcional, presente no artefato estético, será o substrato teórico que norteará esta pesquisa. Enfatiza-se, no âmbito dos estudos miméticos, as contribuições de Aristóteles (1987) e Erich Auerbach (1997, 2013). O primeiro compreendia a mímesis como atividade que engendrava um produto possuidor de semelhanças e dissonâncias com uma cenaprimeira, remodelando-a na medida em que a retratava. O segundo estudou-a como uma ação estruturadora de ficções baseada na relação entre a percepção do real de um autor e sua efetivação em um texto assentado sobre o binômio: índole/destino das personagens. Relaciona-se os conceitos de physis e mimemata de Aristóteles com as noções de prefiguração e preenchimento de Auerbach com o intuito de demonstrar que a cena épica para Camões é ao mesmo tempo construção do próprio feito, sob a égide da plasticidade, e complementação, pois, embora concluso, apenas o canto do poeta permite enxergá-lo, integrando-o na memória dos homens. No afã de conceder coerência teórica a esta investigação busca-se, em excertos de Os Lusíadas, reverberações de assertivas poéticas de Aristóteles. Tenciona-se, com o mesmo propósito, apresentar a percepção camoniana da palavra épica enquanto artifício que, visando o apregoamento de ações notáveis, é capaz de preencher estes feitos imortalizando-os para a posteridade. Recorreu-se, para uma compreensão exitosa da obra camoniana, às obras de Pécora (2006), Hansen (2005), Aguiar e Silva (2011) e Marnoto (1997).