Esta tese tem como objetivo analisar a estruturação dos espaços da dor nas obras História do pranto, História do cabelo e História do dinheiro, de Alan Pauls, compreendidas como uma trilogia literária informalmente intitulada de Trilogia da perda. Parte-se da premissa de que a realidade sociopolítica e histórica vivenciada durante o período da ditadura civil-militar na Argentina (1976–1983) encontra, nessas narrativas, uma forma de representação estética por meio da categoria do espaço. Assim, os espaços literários são lidos não apenas como cenários físicos, mas como construções simbólicas, afetivas e políticas, marcadas por uma memória coletiva traumática. Ancorado no campo da Literatura Comparada, o artigo propõe um diálogo entre literatura, história e política, observando como os espaços narrativos são impregnados por experiências de perda, repressão, silêncio e resistência. A questão norteadora que orienta esta investigação é: de que modo as questões de ordem social, histórica e política inerentes ao regime ditatorial argentino se manifestam e se materializam na construção dos espaços nas obras que compõem a trilogia de Alan Pauls? Para responder a essa indagação, recorrese a um referencial teórico que contempla autores clássicos e contemporâneos da crítica literária e da teoria da memória. Dentre os principais estudiosos utilizados como suporte para a análise, destacam-se Antonio Candido (2006), com suas reflexões sobre a literatura como forma de humanização e especialmente sobre o processo de redução estrutural; Regina Dalcastagnè (1996), cujos estudos abordam a representação da violência e do espaço da dor; Seligmann-Silva (2003), fundamental para compreender a dimensão testemunhal da literatura; Walter Benjamin (2016; 2018), especialmente no que tange às concepções de memória, ruína e experiência; Antoine Compagnon (2001), com sua abordagem da crítica literária moderna; Beatriz Sarlo (2007), referência essencial nos estudos sobre memória e ditadura na Argentina; e Ginzburg (2013), que oferece uma perspectiva indiciária e interpretativa da narrativa histórica e literária. A metodologia empregada consiste em uma análise textual e interpretativa, amparada pela relação entre os estudos literários e os debates sobre memória cultural, trauma e política. A leitura das obras de Pauls permite compreender como o autor mobiliza elementos da memória coletiva e individual para reconstruir, ficcionalmente, o cenário da repressão vivida, revelando marcas profundas deixadas nos corpos, nas subjetividades e nos espaços. Dessa forma, esta tese busca não apenas refletir sobre a representação da ditadura militar argentina, mas também evidenciar o poder da literatura em dar forma ao indizível e ao traumático, propondo uma estética do sofrimento e da ausência que contribui para a elaboração de uma memória crítica do passado recente. O espaço, nesse contexto, assume papel central como lugar simbólico onde o passado se reinscreve e se atualiza, tornando-se testemunho e resistência.