As doenças que afetam o sistema nervoso central (SNC), como tumores cerebrais, ansiedade, depressão, epilepsia e doenças neurodegenerativas, apresentam desafios no tratamento devido à complexidade do cérebro. Embora existam medicamentos, sua eficácia é limitada pela baixa biodisponibilidade, efeitos adversos e pela barreira hematoencefálica (BHE). O propranolol, um β-bloqueador lipofílico inicialmente desenvolvido para doenças cardiovasculares, tem demonstrado propriedades anticonvulsivantes e ansiolíticas, além de melhorar a cognição e auxiliar no tratamento da doença de Alzheimer. No entanto, sua biodisponibilidade oral é de apenas 25 %, o que limita sua eficácia. Uma alternativa para melhorar essa biodisponibilidade é o uso de nanopartículas de zeína, um biopolímero biodegradável, biocompatível e propriedades mucoadesivas que pode favorecer a absorção gastrointestinal do fármaco. Desta forma, o objetivo deste estudo foi investigar o efeito do propranolol estruturado em nanopartículas de zeína no SNC, com foco em doenças relacionadas, avaliando sua eficácia terapêutica, segurança e potencial no tratamento dessas condições. No primeiro capítulo, foi realizado um levantamento bibliográfico que avaliou a eficácia do propranolol em doenças do SNC, com base em 38 publicações de 2003 a 2023. Os resultados mostraram que o propranolol tem efeitos positivos no tratamento de ansiedade, especialmente fobias e transtorno de estresse pós-traumático, e no controle da depressão, particularmente em casos relacionados ao câncer. O fármaco também demonstrou efeitos neuroprotetores na epilepsia e melhorias comportamentais em modelos de Alzheimer, sugerindo seu potencial terapêutico. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender melhor os mecanismos moleculares subjacentes. No segundo capítulo, foram preparadas nanopartículas de zeína (NZ-PROP) do tipo nanoesferas pelo método de nanoprecipitação, para a administração oral do propranolol. As nanoesferas de zeína apresentaram um tamanho de 259,4 ± 12,71 nm, índice de polidispersão de 0,076 ± 0,1, e potencial zeta de -39,5 ± 1,3 mV. A morfologia das nanopartículas mostrou-se regular e esférica e com superfície lisa. A interação entre a zeína e o propranolol foi confirmada por várias técnicas, como espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), difração de raio-X (DRX) e calorimetria diferencial de varredura (DSC), indicando que o fármaco foi eficientemente incorporado nas nanopartículas. A formulação manteve boa estabilidade por 3 meses, com uma eficiência de encapsulamento de 80,16 ± 3,05 %. No estudo do Perfil de liberação in vitro, as NZ-PROP mostraram resistência ao ambiente gástrico, com liberação prolongada do fármaco em pH 6,8 (pH intestinal) de 96,09 ± 0,156 % por 144 h. As nanopartículas não causaram toxicidade em células L929 (fibroblatos de rato), indicando segurança. No terceiro capítulo, a segurança e eficácia das nanoesferas de zeína para a liberação oral do propranolol foram avaliadas. Testes de hemólise mostraram que as nanopartículas NZ-PROP foram seguras (sem danos) aos glóbulos vermelhos. Resultados de ensaios de citotoxicidade com células Caco-2 (adenocarcinoma colorretal epitelial humano) demostrou 100% de viabilidade celular para as nanopartículas com e sem fármaco, assim como com o propranolol livre. Nos testes de ecotoxicidade com Artemia salina, o propranolol livre causou morte em 100 % dos náuplios nas concentrações de 62,5, 250 e 500 μg.mL-1, enquanto com as nanopartículas NZ-PROP, permaneceu a viabilidade em todas as concentrações testadas, indicando redução da toxicidade. A mucoadesividade das NZ-PROP foi superior ao fármaco livre, com uma força máxima de descolamento de 0,2585 ± 0,05 N.cm⁻² e trabalho de adesão de 0,0381 ± 0,002 mN×m, favorecendo uma liberação prolongada do propranolol. Esses resultados indicam que as nanopartículas de zeína são uma estratégia promissora para melhorar a biodisponibilidade oral do propranolol, aumentando sua eficácia terapêutica, o que poderia melhorar a adesão e aumentar o sucesso do tratamento.