O Transtorno por Uso de Opioides (TUO) representa um grave problema de saúde pública global, cuja ampla aplicação terapêutica tem contribuído para os aumentos desse transtorno. Embora o Brasil não enfrente uma crise comparável à de outros países, sua biodiversidade oferece potencial para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, como o uso de substâncias alucinógenas serotoninérgicas. A Mimosa tenuiflora, tradicionalmente utilizada por comunidades indígenas na região Nordeste, contém N, N-dimetiltriptamina (DMT) e outros metabólitos com propriedades alucinógenas descritas na literatura. Sua composição química a torna uma fonte promissora para o tratamento antiadictivo. Este estudo investigou os efeitos da Fração Alcaloídica II (FA II) obtida da casca da raiz de
M. tenuiflora, rica em alcaloides psicodélicos, em modelos pré-clínicos de dependência física à oxicodona e morfina, com abstinência precipitada por naloxona em camundongos C57BL/6J. A adicção a opioides foi induzida pela administração subcutânea (s.c.) duas vezes ao dia de oxicodona e/ou morfina por oito dias consecutivos em doses escalonadas (de 9 a 33 mg/kg para oxicodona e de 25 a 100 mg/kg para morfina). No dia 9, os sintomas de abstinência (saltos, tremor de patas, diarreia e marcha ré) foram precipitados pela administração de naloxona (1 mg/kg, s.c.) nos animais. Para oxicodona, todas as doses de FA II (3, 6 e 9 mg/kg) reduziram significativamente (***p < 0,001) os saltos (6,50 ± 4,46; 8,16 ± 5,49 e 9,16 ± 9,41; respectivamente) e os tremores de patas (3,33 ± 1,36; 2,50 ± 1,87 e 5,66 ± 3,67, respectivamente) quando comparados ao grupo controle (39,80 ± 9,91 e 12,40 ± 4,39, 2 respectivamente). Além disso, apenas a dose de 9 mg/kg reduziu significativamente o sintoma de marcha ré (2,00 ± 2,13) quando comparada ao grupo controle (6,00 ± 2,73). Nos sintomas de abstinência à morfina, as doses de 3 e 6 mg/kg foram capazes de reduzir significativamente (***p < 0,001 e **p < 0,01; respectivamente) os sintomas de saltos (14,37 ± 13,75 e 31,83 ± 12,31; respectivamente) dos animais. Apenas a dose de 9 mg/kg foi significativa (***p < 0,001) nos sintomas tremor de patas e marcha ré (1,12 ± 1,24 e 0,83 ± 1,32, respectivamente) quando comparados ao grupo controle (12,50 ± 8,66 e 2,833 ± 1,60, respectivamente). Já para o sintoma de diarreia, somente a dose de 6 mg/kg reduziu significativamente (*p < 0,05) esse sintoma (2,50 ± 0,83) em comparação ao grupo controle 3,62 ± 0,51). Esses achados sugerem que a FA II possui capacidade de atenuar os sintomas físicos de abstinência a opioides, no entanto, são necessários novos estudos para elucidar os mecanismos neurobiológicos envolvidos, além de determinar sua eficácia e segurança.