A crescente resistência das bactérias aos antibióticos tornou-se uma preocupação global de saúde pública, e a busca por
novas abordagens terapêuticas eficazes e seguras tornou-se necessária. O reposicionamento de medicamentos não
antibióticos, como a anlodipino, mostrou uma abordagem promissora devido à sua atividade antibacteriana e anti-inflamatória.
Além disso, o desenvolvimento da liberação controlada de medicamentos com o uso de nanotecnologia proporciona benefícios
em termos de solubilidade, estabilidade e melhoria da biodisponibilidade. Dessa forma, biopolímeros naturais, como a
mucilagem de semente de chia, (Salvia hispanica) são alternativas sustentáveis e bem-sucedidas para serem usadas como
matrizes para sistemas nanoparticulados destinados ao uso tópico. O presente estudo teve por objetivo obter e caracterizar um
sistema nanoparticulado (Np) à base de mucilagem de chia para o carreamento de anlodipino com o intuito de funcionalizar
uma membrana para o tratamento de infecções cutâneas. A mucilagem foi extraída da semente de chia e empregada como
matriz polimérica para obter Np por processo de emulsificação. O planejamento fatorial 2⁴ foi empregado para otimização das
variáveis da formulação. As nanopartículas foram caracterizadas quanto ao tamanho das partículas, PDI, potencial zeta,
microscopia óptica (avaliação morfológica), DSC, FTIR, XRD e estabilidade físico-química ao longo de um período de 45 dias. A
quantificação e liberação cinética da amlodipina foram obtidas por espectrofotometria UV-Vis com validação analítica de acordo
com a RDC nº 166/2017. A atividade biológica foi avaliada por testes de hemocompatibilidade, ecotoxicidade ecitocompatibilidade. Dentre as formulações testadas, a nanopartícula Np_03 destacou-se com um Z-ave de 82,01 ± 0,14 nm,
PDI de 0,28 ± 0,01 e potencial zeta de -31 ± 0,71 mV, o que sugere sua boa estabilidade e a monodispersidade. A fórmulação
contendo 7 mg de amlodipina foi mais estável por 45 dias de armazenamento, mantendo as características físico-químicas
ideais para aplicação tópica. A eficiência de encapsulamento foi quantificada e constatou-se ser alta, 99,71 ± 0,33% para
contendo 5 mg e 98,75 ± 2,78% para contendo 7 mg de fármaco. As análises de FTIR, DRX e DSC confirmaram o
encapsulamento eficiente do fármaco na forma amorfa, sem reações químicas com a matriz. A liberação do medicamento das
formulações foi estendida até 80 h e mostrou melhor ajuste com o modelo de Higuchi (R² > 0,98), sugerindo que a liberação da
amlodipina da matriz polimérica foi por difusão controlada. A formulação apresentou hemocompatibilidade, citocompatibilidade
e baixa toxicidade de acordo com os testes biológicos, o que confirma a sua segurança. A formulação preparada usando
mucilagem de chia foi bem-sucedida na encapsulação e liberação controlada de anlodipino, apresentando atributos físico-
químicos e biológicos promissoras para o uso em infecções cutâneas. O potencial de associar um biopolímero natural com um
medicamento reposicionado, combinado com estratégias nanotecnológicas, representa uma solução original, sustentável e
eficaz para o combate à resistência antimicrobiana.