Scaffolds são estruturas porosas, tridimensionais que permitem a incorporação de células e fármacos para liberação prolongada. A produção de scaffolds com polímeros naturais apresenta vantagens como maior biocompatibilidade, biodegradabilidade, baixa toxicidade e bioatividade. O processamento do Anacardium occidentale, gera um resíduo fibroso do pseudofruto, pouco utilizado e geralmente descartado mesmo com sua rica composição e potencial de extração de compostos ativos e polímeros. Diante disso, o objetivo do presente trabalho consiste em extrair, caracterizar e aplicar o polissacarídeo do resíduo fibroso do pseudofruto de Anacardium occidentale L. para liberação de fármacos. Uma revisão de escopo foi realizada nas bases de dados científicas MEDLINE/Pubmed, Web of Science, Scopus, ScienceDirect e Biblioteca Virtual em saúde, e nas bases tecnológicas INPI, WIPO, EPO, USPTO. Após
análise e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados cinco artigos e cinco patentes para análise integral. As evidências incluídas apontam que o resíduo fibroso do A. occidentale é rico em polissacarídeo, complexo proteína-polissacarídeo, lignina e pectina que podem ser obtidos pelos métodos de extração por água quente, extração assistida por ultrassom, hidrólise ácida com tratamento alcalino e extração química assistida por calor. Os polissacarídeos obtidos apresentam boas propriedades mecânicas, estabilidade térmica, baixa toxicidade. A revisão tecnológica não localizou patentes relacionadas ao polissacarídeo do resíduo, sendo incluído patentes sobre a goma do exsudato de A. occidentale. Considerando essa lacuna da literatura, foi realizada a extração do polissacarídeo do resíduo do pseudofruto de A. occidentale pelo método de extração por água quente seguida da recuperação com etanol, a caracterização físico-química foi realizada por espectroscopia na região de infravermelho (FTIR), microscopia eletrônica de varredura (MEV), fluorescência de raios X (FRX) e termogravimetria, já a caracterização biológica foi realizada por meio de teste de atividade antioxidante, antimicrobiana e citotoxicidade in vitro. Para obtenção do scaffold foi preparado um hidrogel com polissacarídeo do resíduo e goma xantana, que foram submetidos à liofilização. A caracterização foi realizada por meio de microtomografia computadorizada, mev e mucoadesividade ex vivo. Após a extração obteve-se 2,54 ± 1,54 % de rendimento, os picos de FTIR mostraram a presença de grupos funcionais característicos de polissacarídeo, possui morfologia lamelar com formato de placas rugosa, com superfícies irregulares e “quebradas”. A composição apresentou os elementos potássio (K), cálcio (Ca) e fósforo (P) em maior concentração, também possui boa estabilidade térmica com início de degradação a partir de 150°C. Quanto a atividade antioxidante o polissacarídeo apresentou CE 50 de 2,2742 ± 0,03 mg/mL para inibir 50% dos radicais livres DPPH•, já a toxicidade in vitro com Artemia salina a mortalidade foram semelhantes aos do controle negativo, com (CL₅₀) após 24 horas de exposição foi de 11.283 µg/mL e após 48 horas foi de 4.911 µg/mL, o polissacarídeo não apresentou atividade antibacteriana frente a E. coli. Os scaffolds obtidos apresentam porosidade acima de 80%, com morfologia com poros interconectados ideal para liberação de fármacos, apresentou baixa mucoadesividade, que pode ser melhorada com modificações químicas do polissacarídeo. Destacando os resíduos fibrosos como fonte promissora na obtenção de polissacarídeos e sua aplicação em biomateriais com valor agregado.