O avanço da resistência microbiana frente às opções terapêuticas disponíveis desafia a prevenção e
controle das infecções. Para enfrentar isso, os Programas de Gerenciamento de Antimicrobianos têm
buscado caminhos que garantam o uso racional, seguro e eficaz do arsenal terapêutico disponível. A
avaliação da Defined Daily Dose (DDD) e do Days of Therapy (DOT) possibilita avaliações padronizadas e
comparações entre diferentes instituições de saúde, embora apresentem limitações inerentes. Na última
década, novas ferramentas de monitoramento foram desenvolvidas, incorporando sistemas de pontuação
que avaliam o espectro antimicrobiano, como o Days of Antibiotic Spectrum Coverage (DASC). Este
trabalho se propôs a analisar o desempenho dos indicadores de consumo de antimicrobiano (DDD, DOT e
DASC) de um hospital universitário no monitoramento do PGA por meio da correlação com as métricas de
resistência bacteriana. Trata-se de um estudo ecológico realizado no Hospital Universitário da
Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), que avaliou retrospectivamente dados referentes ao consumo
de antimicrobianos nos anos de 2020-2024. Adiante, serão analisados também dados referentes às taxas
de incidência de bactérias resistentes, de resistência antimicrobiana e mortalidade. Todos os indicadores
apresentaram tendência significativa de redução, exceto a razão DASC/DOT (p = 0,281). A UTI mostrou
valores de DDD, DOT e DASC de 3-6 vezes superiores aos da enfermaria. No geral, houve correlação positiva forte entre DDD e DOT (ρ = 0,96; p < 0,001), DOT e DASC (ρ = 0,95; p < 0,001) e DDD e DASC (ρ = 0,98; p < 0,001); já DOT e DASC/DOT mostraram correlação negativa fraca (ρ = -0,27; p = 0,039). Na UTI não houve associação entre DOT e DASC/DOT, mas na enfermaria viu-se correlação discreta (ρ = - 0,337; p = 0,008). A redução foi mais expressiva no grupo Watch, destacando-se a queda significativa no uso de quinolonas (p < 0,0001). O grupo Acess mostrou declínio modesto no DDD da enfermaria (β = - 0,86; p = 0,001) e reduções no DOT (β = -4,19; p = 0,005) e DASC (β = -17,4; p = 0,039) na UTI. No grupo Reserve, a enfermaria apresentou quedas discretas em DOT e DASC, enquanto na UTI houve redução em todos os indicadores, com DASC (β = -21,54; p = 0,037). Esses achados refletem maior racionalização e adesão ao PGA e reafirmam a importância da vigilância microbiológica, porém há necessidade de estudos futuros integrando consumo, sensibilidade bacteriana e desfechos clínicos.