A educação da população negra foi proibida nos períodos colonial e imperial no Brasil. Em vários documentos oficiais da Coroa Portuguesa e do Brasil Império foi expresso esse impedimento. Juntamente com essa interdição, os escravizados foram estigmatizados pela cor da pele, como incapazes, brutos e sem subjetividade. Contudo, a pesquisa “Educação dos Negros no Piauí: instrução para ensinar o trabalho no século XIX” apresenta resultados que desmistificam essas assertivas. Para essa constatação estudamos o povoamento e a atividade econômica do Piauí e localizamos a presença dos negros escravizados nesses processos. Também, verificamos as proibições que impediam as experiências com a instrução e os processos culturais. Nesse aspecto identificamos que os escravizados buscaram alternativas para as aprendizagens e práticas sociais. Para referendar a tese de que a instrução dos negros, quando aconteceu, foi para ensinar o trabalho analisamos as determinações para o ensino no Estabelecimento dos Educandos Artífices e no Estabelecimento Rural de São Pedro de Alcântara. A confirmação da tese foi delineada nas práticas da cultura escolar desenvolvidas nesses dois espaços de instrução. A concentração das atividades nos exercícios profissionais indicia que o ensino de primeiras letras foi negligenciado para dar espaço à aprendizagem dos ofícios. Para o exercício dessas instituições de ensino foram empregados rigores emprestados do regime escravistas. Nesses espaços, foram praticados regulamentos formais incompatíveis com processos de aprendizagem. Para este estudos documental e histórico nos guiamos pelo paradigma indiciário, numa análise qualitativa. Neste sentido, estabelecemos como espaço temporal da pesquisa o século XIX. Nossos locais de pesquisa foram o Arquivo Público do Estado do Piauí, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – e a hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital. Essa pesquisa está inserida na abordagem da nova história que busca uma ampliação dos enfoques, quando aborda a trajetória da vida dos negros escravizados, uma parcela da população que sofreu e ainda sofre a invisibilização da sua cultura e história. Demonstra a importância de trazer à luz fatos significativos que foram ignorados pelo filtro da história tradicional. Nessa elaboração, trabalhamos com a dimensão da história cultural, um direcionamento que amplia o enfoque com o auxílio de outras áreas de conhecimento. Este estudo é relevante para a construção da historiografia da educação dos negros no Estado do Piauí.