A Educação do Campo tem sua origem nas lutas dos movimentos sociais do campo por direitos e está intimamente ligada à Cultura Popular, às experiências e aos valores do povo, bem como a um projeto popular de sociedade, portanto, se apresenta como um importante instrumento político-pedagógico de resistência, conscientização, organização política e de humanização destes sujeitos frente aos processos de opressão e desumanização promovido pelo sistema capitalista global. Historicamente, à educação dos povos do campo, tem sido deixada, à margem das políticas públicas, em virtude do processo de desvalorização e estigmatização do campo como lugar de atraso e precariedade disseminado pelo projeto capitalista de dominação social, política, econômica e sobretudo cultural destes sujeitos. A negação do direito à educação às classes populares no Brasil, fez emergir na década de 1950 e 1960, o Movimento de Cultura e Educação Popular, que buscava compreender como se organiza a Cultura Popular, como os sujeitos constroem seus conhecimentos, se mobilizam na luta por seus direitos, de que maneira compreendem o mundo, quais valores cultivam e de que forma expressam estes conhecimentos, valores e sentimentos. A educação popular, por meio da Cultura Popular, procura evidenciar o caráter político da educação, tanto na denúncia da reprodução do status quo, como no anúncio das possibilidades de sua transformação. Ao colocar a Cultura Popular no centro do processo pedagógico, como condição fundamental para a problematização e o desvelamento dos condicionantes históricos e sociais, este movimento contribui no processo de conscientização política e mobilização social. Estas experiências de educação popular trouxeram contribuições importantes para o debate sobre a Educação do/no Campo. Nesta perspectiva, a Educação do/no Campo apesar de ter singularidades, nutre-se dos princípios e fundamentos teórico-metodológicos da Educação Popular, uma vez que busca estabelecer um diálogo entre o conhecimento escolar, conhecimento científica e a Cultura Popular, buscando dialogar com as especificidades e as necessidades dos sujeitos envolvidos nos processos educativos, colocando-os na condição de protagonistas da ação educativa A partir dos elementos apresentados, desenvolvemos nossa investigação a partir do seguinte problema: quais as contribuições políticas e pedagógicas da Cultura Popular para a construção de práticas educativas que problematizem a realidade do campo? Desta questão central deriva nosso objetivo geral: compreender as contribuições políticas e pedagógicas da cultura popular na construção de práticas educativas que problematizem e favoreçam uma ação educativa crítica na realidade do campo. A pesquisa foi realizada na Ecoescola Thomas A Kempis, uma escola do/no campo localizada no município de Pedro II, no Estado do Piauí. Ao todo participaram 20 sujeitos entre educadores(as), técnicos(as) e gestores(as) da Ecoescola. O processo de investigação foi realizado com base na metodologia da pesquisa-ação crítica, a partir dos Círculos de Cultura, eventos de formação-investigação. Estes fomentaram os processos de ação-reflexão-ação sobre as práticas educativas desenvolvidas na Ecoescola que dialogam com os aspectos da Cultura Popular, A pesquisa evidenciou diversas práticas educativas que dialogam com a Cultura Popular e com suas linguagens artísticas, destacando suas contribuições políticas e pedagógicas no contexto de uma escola do/no campo. O diálogo com a Cultura Popular contribui de muitas maneiras para a realização de um processo político-pedagógico humano e crítico a partir da valorização da história e do protagonismo popular.