O colonialismo produziu imagens deturpadas em nossos corpos. Elas se configuram através de processos de aprendizagens que violentam e subalternizam corpos racializados. A forma cartesiana de separar corpo e intelectualidade é um exemplo desse processo de dominação, onde comumente pessoas e cultura negras ficam relacionadas a um aspecto mais corporal e, pessoas e cultura brancas como uma forma mais racional. Nesta dicotomia, há uma intenção colonial evidente de silenciar a intelectualidade negra que, no caso desta pesquisa proponho a dança, como área de conflito. Por este motivo, esta tese foi escrita não para falar de dança, mas para ser a própria dança. Um experimento, onde o corpo produz o próprio conhecimento, sendo uma tese-dança. Metaforicamente, esta tese-dança levanta a hipótese de que espelhos são tecnologias de sedução trazidas de caravelas pelos colonizadores para refletir a imagem deles próprios. No espelho, ao invés de se perceber a imagem do eu, enxerga-se o desejo de predileção pelo mundo branco-narcísico forjado na ferida colonial aberta nos países colonizados. Essa relação colonizador-colonizado tem sido investigada na tese a partir da relação Brasil-Portugal, territórios onde a tese tem sido desenvolvida. A tese-dança aponta pistas para que o colonizado reconheça sua autoimagem na própria comunidade a fim de promover a desconstrução de opressões castradoras que se manifestam em diferentes espelhos: estético, político, espiritual, intelectual ou outras formas de performar a ancestralidade. Baseada nestas questões iniciais, esta pesquisa propõe o seguinte objetivo: desenvolver um processo de criação estético em dança que produza aprendizagens capazes de recusar imagens coloniais e contribua para a formação de imaginários que dessubalternizem pessoas e culturas visivelmente racializadas. A metodologia desta tese tem sido desenvolvida a partir da própria criação coreográfica de mesmo codinome da tese: ‘a devolução dos espelhos’. A obra artística tem sido apresentada para diferentes públicos produzindo dados de duas formas, primeiramente através da própria construção coreográfica com análise das imagens e conteúdo da apresentação e, segundamente, através da produção de dados dos expectadores da performance através de questionários, entrevistas e rodas de conversas revelando as aprendizagens na relação artista-pesquisador-espectador. A tese está amparada nos estudos de Fanon (2008; 1968), Silva (2023), Silva (2022), Boakari (2022), Biko (1987), Cesáire (2020), Souza (2021), Martins (2024), Carneiro (2019; 2023), Hooks (2021; 2021), Evaristo (2024), Freire (2019), Moura (2019; 2020; 2021), Gilroy (1993), Mbembe (2017; 2018), Faustino e Lippold (2023), Mignolo (2013), Nascimento (2007; 2022), Bento (2022) Santos (2023) e, Lacan (1998).