O colonialismo produziu imagens deturpadas em nossos corpos. Elas se configuram através de processos de aprendizagens que violentam e subalternizam corpos visivelmente racializados. A forma cartesiana de separar corpo e intelectualidade é um exemplo desse processo de dominação, onde comumente pessoas e culturas afrodescendentes ficam relacionadas a um aspecto mais corporal e, pessoas e culturas de descendência europeia como uma forma mais racional. Nesta dicotomia, há uma intenção colonial evidente de silenciar a intelectualidade de origem africana (negra) que, no caso desta pesquisa, propõe-se a dança como área de conflito. Por este motivo, esta tese tem duas configurações de linguagem: uma escrita, e a outra dançada. É um experimento, onde o corpo produz o próprio conhecimento, sendo uma tese-dança. Baseando-se nestas ponderações iniciais, esta pesquisa propõe-se o seguinte objetivo: compreender como a criação e apresentação de um espetáculo de dança, produzido a partir dos referenciais desta tese, pode contribuir para produzir aprendizagens capazes de recusar imagens coloniais e estimular a formação de novas imagens que fomentem a consciência e a autoestima de pessoas negras. A metodologia desta tese tem sido desenvolvida a partir da criação coreográfica do mesmo codinome da tese: ‘a devolução dos espelhos’. A obra foi apresentada para diferentes públicos no Brasil e em Portugal, através do doutoramento sanduíche, e tem produzido dados de duas formas, primeiramente através da própria construção coreográfica com análise das imagens e conteúdo da apresentação e, segundamente, através da produção de dados dos espectadores da performance através de questionários, entrevistas e rodas de conversas revelando as aprendizagens na relação artista-pesquisador-espectador. A tese se ampara nos estudos de Fanon (2008; 1968), Kácio Silva (2023), Francilene Silva (2022), Boakari (2022), Biko (1987), Cesáire (2020), Souza (2021), Martins (2024), Carneiro (2019; 2023), hooks (2021; 2021), Evaristo (2024), Freire (2019), Moura (2019; 2020; 2021), Gilroy (1993), Mbembe (2017; 2018), Faustino e Lippold (2023), Mignolo (2013), Nascimento (2007; 2022), Bento (2022), Santos (2023) e, Lacan (1998).