O presente estudo teve como objetivo cartografar os processos de subjetivação e dessubjetivação
de mulheres não monogâmicas no contexto da cidade de Parnaíba – PI. Para tanto, tomamos
como base perspectivas descolonias, compreendendo a monogamia como reflexo da
colonialidade, além de pressupostos da psicanálise e da filosofia da diferença. A metodologia
utilizada se baseia na cartografia e contou com dois encontros coletivos e dez entrevistas
individuais na produção e colheita dos dados, prezando pela participação ativa das mulheres não
monogâmicas que compõem o estudo. Os dados produzidos no campo apontam para as
influências diretas do sistema neoliberal na produção de subjetividades individualizadas que
recaem na busca pela liberdade individual, acúmulo de capital afetivo e hierarquização de afetos
acima das lutas sociais. Além disso, emergiu da colheita de dados os distanciamentos entre teoria
e prática nas (não) monogamias e os entraves em se propor a viver relacionamentos não
monogâmicos frente às normativas monogâmicas-coloniais que reverberam em sentimentos como
posse, ciúme e controle do outro, mesmo em relações que se dizem libertárias/não monogâmicas.
Todavia, apostamos aqui em uma terceira via processual, ética e política, construída a partir de
redes afetivas e rizomas, que nos permita experenciar e cultivar políticas afetivas outras, mesmo
diante da colonialidade que nos atravessa. De todo modo, o estudo nos mostra que, apesar dos
desafios de experenciar políticas afetivas outras em um contexto sócio-histórico-econômico como
o brasileiro, mais especificamente parnaibano, há a disposição, por parte das mulheres não
monogâmicas, em ressignificar e reelaborar condutas e preceitos.