Nas últimas décadas, a crise do sistema penitenciário tem se agigantado e demonstrado sua ineficiência e realidade mais cruel indicando a prisão como um local de exclusão e de morte. São recorrentes as situações de precariedade, insegurança e violência existentes decorrentes do grande encarceramento e da superlotação. Esse ambiente, atravessado por marcadores de raça, classe e gênero, é composto maioritariamente por pessoas negras, sendo 64% da população carcerária, o que evidencia o caráter racista e seletivo do sistema penal. Na composição do sistema prisional brasileiro, diversas são as práticas que interseccionam os poderes disciplinar, biopolítico e necropolitico. Práticas que conformam a prisão em um território de suspenção de direitos, um Estado de Exceção permanente, e reproduzem lógicas contemporâneas do colonialismo e neocolonialismo. Dentre estes corpos colocados a exceção na prisão, as mulheres são alvos principais da incidência incessante dos poderes que encarnam seus corpos e suas subjetividades. Portanto, este estudo tem como objetivo cartografar a incidência dos poderes disciplinar, biopolítico e necropolítico sobre os corpos femininos e seus modos de subjetivação na prisão. Como específicos: a) mapear mecanismos de sujeição disciplinar dos corpos femininos na prisão; b) identificar práticas biopolíticas que incidem sob os corpos femininos para o controle/regulação da vida em suas dimensões de saúde, sexualidade, trabalho e comportamentos na prisão; c) analisar as linhas de força necropolíticas na produção de subjetividades femininas enquanto corpos em exceção na prisão; e d) identificar as formas de resistência das mulheres na prisão. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, que será orientada pela perspectiva ético-estético-política da Cartografia, e pelas ferramentas-conceitos da Filosofia da Diferença. O estudo será realizado a partir da imersão em campo na Penitenciária Juíz Fontes Ibiapina, no município de Paranaíba-PI. Além de acompanhar o cotidiano das mulheres encarceradas, as atividades e rotinas diárias, utilizaremos como recursos dispositivos-oficinas, além das narrativas produzidas nos encontros e os registros dos diários-cartográficos. Estipulamos a participação de 10 mulheres, entretanto, as oficinas serão de caráter aberto. Posteriormente, os materiais produzidos serão utilizados como como elementos analíticos das linhas de força e para identificação e análise do emaranhado de poderes que compõe os corpos femininos e suas subjetividades no cárcere. O estudo seguirá todos as normas éticas estabelecidas pela Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Por fim, o projeto será submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí.