Nas últimas décadas, a crise do sistema penitenciário tem se agigantado e demonstrado sua ineficiência e realidade mais cruel indicando a prisão como um local de exclusão e de morte. Na composição do sistema prisional brasileiro diversas são as práticas que interseccionam os poderes disciplinar, biopolítico e necropolitico, e que conformam a prisão em um território de Estado de Exceção permanente. Dentre estes corpos colocados a exceção na prisão, as mulheres são alvos principais da incidência incessante dos poderes que encarnam seus corpos e suas subjetividades. Tomando a prisão como um diagrama de forças, esse trabalho trata-se de uma analítica de poderes. Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa foi: analisar as memórias, as narrativas e os encontros de
uma psicóloga-pesquisadora com mulheres em situação de cárcere, a partir das relações de poder que incidem sobre os corpos femininos na prisão. Como específicos: 1) observar o cotidiano da vida das mulheres na prisão; 2) identificar vetores de sujeição que incidem sobre os corpos femininos para o controle/regulação da vida em suas dimensões de saúde, sexualidade, trabalho e comportamentos na prisão; 3) coletivizar as memórias e narrativas de vida das mulheres na prisão; 4) conhecer as formas de resistência das mulheres na prisão; e 5) analisar as implicações da experiência de psicóloga-pesquisadora na prisão em seus encontros com as mulheres em situação de cárcere. Trata-se de uma pesquisa de base qualitativa, com base numa analítica foucaultiana do poder na Penitenciária Mista de Parnaíba – PI. Utilizou-se o registro em diários de campo e entrevistas coletivas. O diagrama de poderes na prisão é composto pela disciplinarização das mulheres, esquadrinhamento de seus espaços, controle das atividades; punição de comportamentos transgressores e uma vigilância permanente; Controle biopolítico dos corpos, como a limitação de suas sexualidades e ineficiência dos serviços específicos para a saúde da mulher; e pela lógica necropolítica, como a precária alimentação fornecida, ociosidade, além do abandono ou esquecimento a que muitas são submetidas no cárcere. Também há resistência, como a organização e solidariedade do grupo, as transgressões de normas e a construção de amizades. O encontro com mulheres presas interpela o corpo da pesquisadora e suas representações acerca de sua condição de mulher, branca, acadêmica e, ainda, sua condição de liberdade.