Introdução: A presente pesquisa parte da concepção de que o trabalho é um construto dinâmico, que sofre transformações ao longo do tempo. Atualmente as organizações têm utilizado o seu quadro de colaboradores como talentos para manter-se competitivas no mercado e o trabalho em equipes, neste contexto, constitui uma estratégia para obtenção de metas e compartilhamento de conhecimentos multidisciplinares. Atrelado a isso, nota-se a pertinência com que se faz necessária a aprendizagem tanto formal quanto informal como recurso utilizado pelo trabalhador para a ampliação de conhecimentos e capacidades de se adequar às experiências do mercado de trabalho. A partir desta realidade, ancora-se na seguinte pergunta: “Como os profissionais das Unidades Básicas de Saúde – UBS’s vivenciam a experiência de aprendizagem no trabalho no exercício de suas atividades profissionais exercidas em equipe de trabalho?”. Justifica-se a realização deste estudo, visto que se faz pertinente conhecer de que forma os membros das equipes de trabalho aprendem e aplicam o aprendizado no exercício do seu trabalho. Em relação à categoria ocupacional que se pretende estudar, qual seja, os profissionais da saúde no âmbito da atenção primária – a pertinência partiu da observação de que, são estes profissionais os responsáveis por promover o primeiro contato do usuário com os serviços de saúde e, além disso, constituirem a categoria de profissionais responsáveis por atender a maioria das demandas existentes nas Unidades Básicas de Saúde, visto que encaminham para os grupos de média e alta complexidade apenas aqueles casos realmente necessários. Vale pontuar que, processos de aprendizagem estão imbricados na execução do trabalho destas equipes. Ter um conhecimento sobre a experiência de aprendizagem permite aos órgãos gestores da saúde pública o desenvolvimento de estratégias (ações de Treinamento, Desenvolvimento e Educação – TD&E, por exemplo) para melhorar o processo de cuidado e consequentemente o serviço ofertado; subsidiar financiamentos de formações para as equipes; além de melhorar-intervir no que não está sendo efetivo no funcionamento das equipes. Fundamentação teórica: O trabalho é compreendido como uma cognição social, um construto dinâmico e processual no qual estão envolvidos aspectos históricos, econômicos, políticos e culturais (Bendassolli & Guedes, 2014). Atualmente, o mundo das organizações configura-se como um ambiente no qual se observa acirrada competitividade em face das constantes mudanças que afetam as relações dos indivíduos com o trabalho (Wegner, Godoy, Godoy, Bueno e Pereira, 2018), o que faz com que diante das transformações nos sistemas sociais, as organizações tenham buscado novas estratégias em modelos de gestão, haja vista o diferencial competitivo ter relação não apenas com o desempenho dos colaboradores, mas também com a capacidade interna de cada organização (Pimenta e Rocha, 2011). As organizações necessitam dos talentos que têm para enfrentar um ambiente competitivo, desta forma, o trabalho na modalidade de equipes apresenta-se como mecanismo para compartilhar conhecimentos multidisciplinares (Travelin, Belhot e Colenci Junior, 2005), já que as equipes constituem um grupo de indivíduos que realizam tarefas com o intuito de atingir um objetivo em comum (Wegner, Godoy, Godoy, Bueno e Pereira, 2018). Rieck e Marques (2015) pontuam que a rapidez com que os acontecimentos e as informações perduram, constituem fator acelerado das relações com o mercado e impulsionam a ânsia das pessoas em ascenderem em suas carreiras, contribuindo para a busca pelo desenvolvimento de novas necessidades e aspirações na profissão. Deste modo, a aprendizagem organizacional pode ser compreendida como um processo em que pode ocorrer uma reestruturação dos trabalhadores e das organizações por meio da ampliação de conhecimentos e capacidades de se adequar às exigências do mercado de trabalho (Rocha e Vieira, 2016). Abdad e Borges-Andrade (2014) pontuam três grandes abordagens na Psicologia aplicadas no âmbito das organizações de trabalho: a abordagem comportamentalista, a cognitiva e a construtivista. No contexto da aprendizagem organizacional, a abordagem construtivista tem sido bastante utilizada atualmente para o desenvolvimento de treinamentos nas organizações, como base na formulação de modelos teóricos que expliquem a aprendizagem informal no trabalho. Destaca-se dessa forma a complexidade que envolve o processo de aprendizagem em equipes, que por sua vez compreende um fenômeno social que se desenvolve e muda ao longo do tempo (Lehmann-Willenbrock, 2017). Para que ocorra a aprendizagem na equipe, se faz pertinente que os membros concordem entre si, chegando a uma concepção sobre o problema ou tarefa (Barouh e Puente Palácios, 2015). A compreensão acerca do processo de aprendizagem em equipes de trabalho, portanto, é importante por permitir o conhecimento de abordagens inovadoras para lidar com problemas na execução das tarefas e aprimoramento dos procedimentos, possibilitando respostas às transformações organizacionais (Santos e Franco, 2011). No bojo desta discussão é pertinente ressaltar o quanto tais construtos são necessários para o desenvolvimento e manutenção das atividades realizadas pelos profissionais do serviço público de saúde. Escalda e Parreira (2018) pontuam que esses profissionais executam o cuidado em saúde na comunidade em uma lógica de trabalho em equipe, de modo que existem dimensões do trabalho interprofissional e práticas colaborativas desenvolvidas pelas equipes a exemplo de: 1) encontros e interação na equipe; 2) práticas colaborativas e trabalho interprofissional; 3) novas configurações do processo de trabalho; 4) atenção centrada no paciente. Tais elementos sinalizam para as convergências das ações realizadas nas UBS`s com o que a teoria aponta acerca das equipes de trabalho. Nesta perspectiva, Santos e Franco (2011) citam que no âmbito das equipes de trabalho a aprendizagem organizacional pode acontecer de forma rápida e que o desenvolvimento das funções laborais no contexto de equipes de trabalho pode facilitar o processo de aprendizagem organizacional assim como a ausência do trabalho em contexto de equipes pode ser prejudicial aos processos de trabalho como tomada de decisão, solução de problemas e implementação de ações. Objetivo: Investigar a experiência de aprendizagem dos profissionais em equipes de trabalho no exercício de suas atividades profissionais nas UBS`s de Parnaíba-PI. Método: O presente estudo será de matriz qualitativa exploratória e descritiva, que de acordo com Gil (2008) tem por finalidade em seu aspecto exploratório, esclarecer e desenvolver conceitos, possibilitando que haja o desenvolvimento de uma aproximação e uma visão ampliada acerca do fenômeno estudado, para que se faça possível descrever características do fenômeno e da população estudada. Participantes: Estima-se que o presente estudo seja realizado com três equipes – em três UBS`s distintas, alcançando-se assim por volta de 20 participantes. Neste sentido, a literatura aponta como limite entre 15 e 25 entrevistas individuais, por considerar que um número superior a este pode acarretar saturação das informações, ou seja, podem não ser alcançados aspectos novos ao corpus de análise (Bauer e Aarts, 2008). Por esses termos, estima-se entrevistar a maior quantidade possível de membros pertencentes a uma mesma equipe lotados em UBS`s em Parnaíba-PI, o que dificulta, previamente, determinar a quantidade de UBS`s que serão necessárias para ser visitadas, visto que será necessário contar com o aceite dos trabalhadores em questão. A escolha dos participantes levará em conta o critério de inclusão de ser profissional inserido em uma equipe de trabalho UBS em Parnaíba – PI; têm-se por critério de exclusão os profissionais que estejam em licença, em férias ou que não concordem em participar. Instrumento: Como técnica de coleta de dados será utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada e questionário sociodemográfico a fim de que se conheça o perfil dos participantes. A entrevista semiestruturada representa um dos principais instrumentos para coleta de dados por possibilitar que informações, a partir de perspectivas diferentes, emerjam a respeito do fenômeno que está sendo observado e do contexto no qual ocorre, possibilitando uma melhor compreensão e integralização dos dados à medida em que as informações são integralizadas na análise. Nesse sentido, a entrevista é entendida como um espaço de diálogo a respeito de um tema específico (Moré, 2015). Procedimento: As entrevistas serão realizadas nos locais de trabalhos dos referidos participantes. Independente da situação, durante a abordagem será perguntado a cada pessoa se poderá participar de uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba, e, caso aceite, o respondente terá acesso a um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual ele poderá assinar se estiver de acordo. Será solicitada a permissão para que a entrevista seja gravada, e, caso o participante concorde, será gravado apenas o áudio. A presente pesquisa será realizada mediante solicitação de anuência da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Parnaíba e parecer de aprovação ao projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa. O estudo seguirá as normas e procedimentos éticos conforme a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde que estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. O estudo apresentará riscos mínimos psicológicos aos participantes, podendo ocasionar algum desconforto em decorrência da temática abordada. Todos os dados serão mantidos sob sigilo, salvaguardando a identidade de cada respondente e sua livre decisão de desistência da pesquisa a qualquer momento, caso necessite. Análise dos dados: A análise dos dados será feita por meio da técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2016) que consiste em um conjunto de técnicas utilizadas para analisar as comunicações e aponta algumas etapas de análise – pré-análise, referente ao primeiro contato com o material a ser estudado, sendo este organizado para as etapas seguintes; codificação, que consiste na etapa em que é realizado o tratamento dos dados consistindo na escolha de unidades de registro e de contexto; categorização, etapa em que são classificados e agregados os elementos que compõem um conjunto, levando em conta as características em comum, de modo a favorecer a etapa de inferência, que por sua vez esclarecem as causas das mensagens. Encaminhamento para os resultados: Espera-se que os resultados encontrados possam elucidar questões referentes à forma como as pessoas que estão ativas no mercado de trabalho e os aspectos que caracterizam a experiência de aprendizagem na realidade local. Além disso, espera-se que a presente pesquisa permita compreender os elementos da aprendizagem organizacional em equipes de trabalho.