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Banca de QUALIFICAÇÃO: ANTONIO JOELMIR PORTELA DA SILVA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: ANTONIO JOELMIR PORTELA DA SILVA
DATA: 15/12/2022
HORA: 15:00
LOCAL: Online/Remoto - Google Meet
TÍTULO: Internação psiquiátrica: experiência familiar entre as grades do manicômio
PALAVRAS-CHAVES: Manicômio, Família, Crise Psicótica, Internação Psiquiátrica, Saúde Mental.
PÁGINAS: 50
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Introdução: A presente pesquisa trata sobre a institucionalização de famílias durante a hospitalização de pacientes em crise do tipo psicótica. Para tanto, o recorte está voltado para pacientes que tenham tido sua primeira crise e, consequentemente, sua primeira internação psiquiátrica. Entendemos que a situação de crise em saúde mental é caracterizada pela fase de agudização de uma situação extrema, uma situação limite, em que, de ordinário, estão sempre permeadas de fatores multicausais. Ademais, é possível pensar os impactos da crise psicótica não somente no paciente, mas também na família, pois faz eclodir nesta sentimentos diversos e na maioria das vezes a convivência com os sintomas graves e intensos que o paciente apresenta, leva a desorganização da configuração familiar e a desestruturação do ambiente em que a família convive, por meio de sobrecargas afetiva, física e financeira (Chaves, 2007). Por outro lado, é inegável que a participação familiar na ação de cuidado em saúde mental demarca um espaço salutar para a evolução positiva do paciente, sobretudo na primeira crise psicótica (McGorry, 1995). No hospital escolhido para a realização do estudo, nomeado como Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, que se localiza no extremo norte do Estado, no litoral piauiense, mesmo sendo um hospital geral, mas que guarda uma ala psiquiátrica, nos moldes de uma estrutura manicomial, asilar e segregadora, acumula inúmeras contradições ao longo do tempo, inclusive pós estabelecimento do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil e de reordenamento da rede de atenção psicossocial. Tal estrutura, supreendentemente, permanece ainda hoje e compõe o ponto de atenção hospitalar como serviço de referência, no tocante a escancarar como o manicômio e sua racionalidade permanecem vivos, a partir do gesto manicomial (Wanderley, 2021) e dos desejos de manicômio (Alverga & Dimenstein, 2006), enquanto mecanismos que sustentam com “mão” firme a lógica manicomial que se atualizam na própria estrutura e dinâmica da instituição e da cidade, inclusive sob a condição de para que a internação psiquiátrica ocorra na Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, tanto o paciente como seu familiar (acompanhante) precisam ficar internados e vivenciar na pele o manicômio em suas vidas. Fundamentação teórica: As Misericórdias são consideradas como pontos importantes de atuação, manutenção e articulação entre o capitalismo e a caridade. Nesse sentido, estudos se dedicaram a pesquisar os efeitos dessas instituições na economia, na política e sobretudo na clientela atendida (Fernandes, 2009). Alguns autores trabalham a perspectiva da “economia de salvação de almas” (Le Goff, 1991) para discutir sobre os investimentos da burguesia nessas instituições e seus efeitos nas cidades no atendimento sobretudo dos desvalidos, mulheres, órfãos e loucos. Pode-se destacar que, durante o período republicano, as Santas Casas de Misericórdia passaram a ser usadas como continuidade dos governantes locais, não somente em relação a saúde e a assistência, mas também como ponto fundamental de articulação política, com grandes chances de reverberações nacionais. É nesse sentido, que essas instituições deixam de ser nomeadas como instituições de caridade para adquirir o status de filantrópicas/assistenciais. Por isso, passam, então, a serem tomadas e respaldadas pelos ideais de ordem, moral, progresso e controle social vigentes na ideologia republicana, que depositava no Estado a responsabilidade sobre o projeto de modernidade e higienização, devendo intervir sobre questões sociais dado o crescente número de doenças e doentes que poderia ameaçar a ideia de desenvolvimento e progresso da nação (Fernandes, 2009). A Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba tem sido campo de atuação do saber psiquiátrico, mantido por uma lógica manicomial e higienista (Foucault, 2015), desde a abertura da ala psiquiátrica do hospital em 1976 (Athayde, 1984). Porém, cabe ressaltar que nesse contexto, não são apenas os médicos que operam por essa lógica, outros saberes também participam dessa operação ao reduzir o sujeito a norma e ao diagnóstico enquanto caminho para ortopedia social (Santos & Zambenedetti, 2019). Assim, entendemos que essa lógica parece durar mesmo com pressões em diferentes campos, desde sociais a políticas, permitindo pensar a existência de mecanismos que os mantém no tempo, inclusive após a Reforma Psiquiátrica, e a instauração da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) na cidade. Objetivos: Como objetivo geral, esta pesquisa buscou: Refletir sobre os efeitos da experiência do familiar que acompanha a primeira internação psiquiátrica do paciente em crise, ao ter que ficar alojado com ele na ala psiquiátrica da Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba. Como objetivos específicos: a) Conhecer as condições em que ocorre a internação psiquiátrica do paciente em crise e a experiência do familiar-acompanhante enquanto vivente da ala psiquiátrica; b) Acompanhar o percurso do familiar-acompanhante no cotidiano da internação, da chegada ao serviço à instalação na unidade, passando pela ambientação e a experiência na ala psiquiátrica; c) Identificar as repercussões da internação para o familiar-acompanhante, e na relação deste com o paciente; d) Refletir sobre as condições de transmissibilidade do choque e das violências da internação psiquiátrica na experiência do familiar-acompanhante. Método: Este é um estudo de base qualitativa, ancorado em um modelo de pesquisa que tem como foco evidenciar os atravessadores da experiência da primeira internação psiquiátrica, por meio de entrevistas narrativas, além da utilização da participação observante, onde assumo o lugar de pesquisar no meu local de trabalho, considerando que a pesquisa é realizada no serviço em que atuo profissionalmente. Como pesquisador-trabalhador, é possível capturar uma série de nuances que dificilmente seriam apreendidas por meio de perguntas, visto que observar na realidade, deixa escapar o que há de mais espontâneo, a vida real (Minayo, 2011). Nessa pesquisa o que busco, além da técnica metodológica é a participação plena nas atividades do campo que estudo e trabalho. Como critério de inclusão, é necessário o participante ter idade igual ou superior a 18 anos, ser acompanhante no processo de hospitalização psiquiátrica e estar nessa situação pela primeira vez. Os casos que fujam desses critérios são entendidos como não compatíveis ao estudo, estando dentro dos critérios de exclusão do mesmo. Foram realizadas 5 entrevistas, os colaboradores foram identificados a partir da “corrida de leito” que realizo na psiquiatria. Após os atendimentos com os mesmos, foi explanado sobre a realização do estudo e sobre a possibilidade de sua participação, após o aceite, foi marcado um horário em sala reservada pra essa finalidade, apresentado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e iniciada a entrevista, sendo gravadas para posterior transcrição e análise. De maneira específica, são analisados materiais discursivos, provenientes das entrevistas realizadas com os informantes que aceitaram participar do estudo. O material é analisado sob a perspectiva da análise de conteúdo temática (Minayo, 2006). Essa análise busca situar e analisar as temáticas em contexto, levando em consideração o social. Sob a perspectiva da análise de conteúdo, farei uma leitura primeira sobre o material produzido, como um leitor de sobrevoo, para em seguida realizar uma segunda leitura, buscando a produção de sentidos, conceitos e categorias que possam surgir das falas e dos materiais. É possível que outros marcadores surjam conforme sejam realizadas as leituras do corpus. Quando um colaborador fala de seu microespaço, ele está, por meio de sua narrativa, denunciando o que pode estar contido no espaço macropolítico das relações sociais, comunitárias e familiares. Encaminhamentos para os Resultados: A partir da análise realizada, podemos apontar que a religião desempenha uma função reguladora para os participantes, tendo força suficiente para interferir no entendimento do quadro e nas expectativas sobre os pacientes. Sobre as condições de acompanhamento, os mesmos apontam cansaço, medo e impotência como predominantes na maior parte do tempo de internação, além de qualificarem a hospitalização por meio da suposta segurança ao paciente e também a oferta de alimentação aos acompanhantes. Os participantes também apontam sentimentos como medo e impotência como os mais frequentes em seu cotidiano de internação, desencadeando comprometimentos físicos a eles. Apontamos como parciais esses resultados, visto a necessidade de realização de mais entrevistas até o fechamento do estudo. Esperamos que com essa pesquisa que possamos reconhecer os atravessamentos que incidem sobre a experiência de acompanhar um paciente psiquiátrico em internação. Reconhecer o sofrimento dessa clientela não é só validar uma realidade já supostamente conhecida, mas também facilitar meios de intervir e construir novas propostas de políticas públicas ou funcionamento na instituição que estejam voltadas à realidade local e comprometidas com os usuários e familiares em questão. Nesse sentido, será possível pensar em linhas de fuga para o modelo vigente, possibilitando refletir sobre outros possíveis para essa clientela e para a rede de saúde do município. Os resultados dessa pesquisa também colaboram para a construção e aprimoramento de conhecimento científico sobre o assunto nos campos teóricos, técnicos, políticos e assistenciais.


MEMBROS DA BANCA:
Interno - 1402780 - GUILHERME AUGUSTO SOUZA PRADO
Presidente - 1774313 - JOAO PAULO SALES MACEDO
Externo à Instituição - MICHELE DE FREITAS FARIA DE VASCONCELOS - UFS
Notícia cadastrada em: 06/12/2022 05:58
SIGAA | Superintendência de Tecnologia da Informação - STI/UFPI - (86) 3215-1124 | © UFRN | sigjb04.ufpi.br.sigaa 29/03/2024 04:14