O presente estudo objetiva investigar as condições estruturais que mulheres-mães enfrentam
para garantir o acesso e a permanência em cursos de pós-graduação, discutindo a
emergência de ações afirmativas e políticas públicas como o direito à educação e o dever do
Estado na constituição de uma rede apoio às mulheres-mães pesquisadoras. A luta pela
inclusão da mulher na educação e na ciência tem sido desafiadora ao longo do tempo. Essa
luta fica ainda maior quando envolve a maternidade. Na pós-graduação, desafios como falta
de rede de apoio, prazos e políticas de assistência a estudante-mãe tornam difícil a
conciliação da maternidade e da ciência, levando as discentes que se tornam mães, muitas
vezes, a procrastinar o acesso e até a abandonarem seus estudos, sonhos e aspirações
profissionais e acadêmicas. Problematizamos sobre as barreiras geradas pelas estruturas
patriarcais, que tendem a marginalizar e excluir as mulheres-mães do ambiente acadêmico.
A pesquisa envolveu mulheres-mães que são estudantes de pós-graduação da Universidade
Federal do Piauí (UFPI) com recorte nos programa de Políticas Públicas, Educação e
Sociologia. Optou-se por uma abordagem qualitativa, fundamentada nos princípios da
pesquisa participante, orientada por autores (as) como: Quijano (2005); Badinter (1985); Fals
Borda (1985), Saffioti (2004); Carneiro (2019); Brandão e Streck (2006); dentre outros (as). A
pesquisa prioriza a construção coletiva do conhecimento a partir das experiências
compartilhadas pelas mulheres-mães no contexto da pós-graduação. Para assegurar a
consistência e a profundidade da análise, adotamos o método dialético para compreender os
dilemas existentes na tentativa de conciliar a vida acadêmica e a maternidade, no qual
procuramos situar as categorias: mulher-mãe; rede de apoio familiar; rede de apoio
institucional; políticas públicas, acesso e permanência. Inicialmente, apontamos que a
narrativa patriarcal contribui para a exclusão de mulheres, determinando os lugares de
inserção e participação das estudantes-mães afetando seu direito à educação, discutimos a
importância do feminismo matricêntrico como uma política centrada nas mães que
compartilham a luta pelo direito à formação continuada na pós-graduação; refletimos as
narrativas que as mulheres-mães enfrentam no processo de acesso e permanência de suas
trajetórias educativas na pós-graduação. A análise dos dados evidencia que mulheres-mães
na pós-graduação da UFPI enfrentam múltiplas barreiras estruturais, enraizadas em uma
lógica patriarcal que naturaliza a sobrecarga da maternidade e impede suas demandas no
ambiente acadêmico. A ausência de políticas institucionais eficazes e de apoio do Estado
induz essas mulheres a recorrerem a redes informais de suporte, majoritariamente femininas,
para garantir sua permanência. Embora resistam por meio de estratégias próprias, muitas
vezes às custas de sua saúde e produção acadêmica, suas trajetórias escancaram a omissão
das instituições frente a desigualdade de gênero. A pesquisa aponta a urgência de políticas
públicas no âmbito das instituições de ensino e na rede do Estado promovendo ações
afirmativas específicas, como cotas no acesso e ampliação de prazos, para garantir a
equidade no acesso e na permanência dessas mulheres nos espaços de formação
continuada. Por fim, apontamos algumas alternativas de políticas públicas na garantia do
direito de acesso e permanência na pós-graduação.