O backlash antigênero é um fenômeno observado em diferentes sociedades e
contextos, caracterizado por reações organizadas contra avanços nos direitos das
mulheres e das pessoas LGBTQIAPN+. A literatura tem documentado e analisado suas
múltiplas manifestações, destacando que o movimento se expressa não apenas em
debates públicos e campanhas, mas também em arenas institucionais, como o
Legislativo (Bracke; Paternotte, 2016; Corrêa; Kalil, 2021; Corrêa et al., 2023; Elad-
Strenger et al., 2024; Korolczuk et al., 2025). No Brasil, a Câmara dos Deputados é
espaço de disputas dessas pautas. Embora já existam estudos que abordam a
presença do movimento antigênero em parlamentos de diferentes países, ainda há
lacunas importantes no entendimento de suas especificidades no contexto brasileiro.
Pouco se sabe, por exemplo, sobre o perfil sociodemográfico e partidário dos
parlamentares que impulsionam projetos de lei (PLs) feministas e antifeministas, bem
como sobre a forma como deputados e deputadas federais jovens se posicionam em
relação a essas agendas. Esta pesquisa busca preencher parte dessa lacuna
examinando a 56a Legislatura da Câmara dos Deputados, ocorrida entre 2019 e 2022,
a partir da seguinte pergunta: o que são e como se apresentam os feminismos e
antifeminismos parlamentares? Objetiva-se, assim, analisar a manifestação das
agendas feministas e antifeministas dos deputados e deputadas brasileiros.
Primeiramente, os PLs foram coletados e categorizados como feministas e
antifeministas utilizando como base a literatura sobre o tema; posteriormente, traçou-
se o perfil de quem protocolou PLs feministas e antifeministas, a partir de variáveis
sociodemográficas; em seguida, foram analisados os PLs a partir de seus conteúdos
feministas e antifeministas, traçando paralelos com os achados de perfil.
Metodologicamente, a pesquisa combina abordagens quantitativas e qualitativas. Na
dimensão quantitativa, foram analisados dados de 613 deputados/as por meio de
regressão logística, considerando variáveis sociodemográficas e ideológicas, a partir
de seus PLs feministas e/ou antigênero/antifeministas. Na dimensão qualitativa, foi
realizada análise documental com técnica de análise de conteúdo de 335 PLs do
período que continham a palavra gênero nas suas ementas ou texto completo. Os
resultados preliminares revelam: parlamentares de partidos de direita, com menor idade
e deputadas têm maior probabilidade de propor PLs antigênero/antifeministas. A partir
deste perfil, analisou-se a atividade parlamentar via PLs: enquanto a atuação feminista
das deputadas concentrou-se em demandas de mulheres cisgênero, com pouca
inclusão de pautas LGBTQIAPN+, a atuação antifeminista priorizou o bloqueio de
direitos da comunidade LGBTQIAPN+; já entre os/as jovens parlamentares,
predominou uma atuação feminista mais binária e cisgênero, enquanto as juventudes
antifeministas rejeitaram de forma explícita direitos sobre diversidade de gênero. Esses
achados prévios contribuem com a literatura ao apontar que a presença de mulheres e
jovens no parlamento não garante, por si só, a promoção de agendas inclusivas, sendo
a ideologia partidária um fator determinante na configuração dessas disputas
legislativas. Ressalta-se, contudo que a pesquisa ainda está em andamento.