Durante todo o desenvolvimento da civilização humana, a relação entre o homem e as plantas sempre assumiu um caráter de interdependência, além de elas terem sido decisivas na formação das populações no mundo. As populações humanas convivem com uma grande diversidade de espécies vegetais, desenvolvendo maneiras particulares de explorá-las para distintas finalidades, usando-as como alternativa de sobrevivência. Em comunidades rurais, a literatura costuma atribuir à existência de uma gama de plantas, exóticas ou nativas, que assumem a função de produtos que suprem as necessidades terapêuticas primárias destas populações, sendo por muitas vezes a única alternativa encontrada pelas pessoas. No presente trabalho, objetivou-se compreender a dinâmica da utilização de plantas medicinais e a dependência terapêutica exercida junto aos moradores da comunidade Corredores, localizada no município de Campo Maior, Piauí, Brasil. Como ferramentas metodológicas foram realizadas entrevistas semiestruturadas, listagem livre e turnês-guiadas; quantitativamente foram usados o Fator de Consenso dos Informantes (FCI) e a Importância Relativa (IR). A coleta botânica seguiu o preconizado por metodologia usual e todo material botânico foi depositado no Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Do total de entrevistados, 76,5% eram do gênero feminino. Registraram-se 44 espécies, distribuídas em 21 famílias, sendo 54,6% consideradas nativas no país. As famílias mais representativas em número de espécies foram: Fabaceae (5) e Euphorbiaceae (3 cada). A espécie vegetal de maior importância relativa foi o mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), com IR=2. Neoplasias (C00-D48) foi o sistema corporal de maior consenso para os moradores da comunidade, com FCI = 1,0. A enorme propagação de Morinda citrifolia L., popularmente conhecida como none, pode ser atribuída a este resultado. As doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90) e as doenças do aparelho circulatório (I00-I99), apresentaram os dois menores consensos entre os informantes, 0,25 e nulo, respectivamente. Os resultados permitiram inferir que dependência terapêutica está relacionada com a gravidade das doenças citadas pelas pessoas.