O conhecimento tradicional, desenvolvido em sistemas sócioecológicos complexos que coevoluíram ao longo do tempo, adquire grande relevância por ser a base para as práticas de manejo de ecossistemas. Entretanto, esse tipo de conhecimento é distribuído de forma diferenciada na comunidade e pode sofrer influência de muitos fatores de importância sociocultural, econômica ou ecológica. Em comunidades pesqueiras, o conhecimento está sob ameaça de perder algumas de suas tradições socialmente herdadas. Como consequência, esses povos podem perder a capacidade de lidar com alterações ambientais. Adicionalmente, a pressão sobre os recursos pesqueiros causou um declínio drástico em seus estoques, ressaltando a necessidade da busca por estratégias de uso sustentável. Poucos estudos sobre o conhecimento tradicional de pescadores foram conduzidos nos sistemas fluviais da bacia do Parnaíba. O objetivo principal deste estudo foi investigar o conhecimento tradicional dos pescadores artesanais de Amarante (Piauí) sobre a ictiofauna explorada localmente, com vistas a gerar informações que possam contribuir com ações de conservação desses recursos naturais e de valorização da cultura tradicional da região. No primeiro artigo, que investigou a relação dos pescadores com os seres míticos das águas que compõem a cosmovisão desses povos, buscando saber se tal relação influencia na prática da pesca artesanal. Para isso, empregou-se o método de entrevistas semiestruturadas entre pescadores selecionados pela técnica de bola-de-neve, após a identificação de informantes-chave. No universo cosmológico dos ribeirinhos, os corpos d’água de Amarante (os rios Parnaíba e Canindé em particular) são habitados por seres míticos. Estes influenciam diretamente na exploração dos recursos pesqueiros dos ribeirinhos que acreditam na existência dos mitos das águas. Por outro lado, parte dos pescadores não acredita na existência de seres sobrenaturais que vivem nas águas. No segundo artigo, ainda em fase de elaboração, buscou-se investigar a distribuição do conhecimento de peixes reconhecidos e utilizados pelos pescadores, em relação ao sexo e à idade; avaliar a diversidade (riqueza) de peixes úteis da região estudada; e verificar o status de conservação das espécies estudadas. Até o momento, entrevistamos 66 pescadores, selecionados por amostragem aleatória estratifica. Os dados estão sendo coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, utilizando-se de questões abertas e fechadas, complementadas por entrevistas livres e conversas informais, além de técnicas de observação direta e de participante do tipo não membro.