RESUMO
Introdução: A relação entre religião, espiritualidade e saúde tem sido amplamente debatida no cenário mundial, com evidências crescentes de seus efeitos positivos. Compreender como esses elementos se associam à saúde mental contribui para refletir sobre a importância do cuidado religioso e espiritual no contexto da atenção integral à saúde, especialmente da população idosa — foco deste estudo. Objetivo: Avaliar a religião e espiritualidade de idosos atendidos pela atenção primária em Teresina (PI), identificando possíveis relações com a fragilidade sociofamiliar e a saúde mental. Método: Trata-se de uma pesquisa quantitativa, de delineamento transversal. Foi realizada triagem cognitiva dos participantes por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM). A fragilidade sociofamiliar foi avaliada com a Escala de Avaliação da Fragilidade Sociofamiliar do Ministério da Saúde. Para investigar a saúde mental, utilizou-se o Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), e para avaliar a religiosidade, o Índice de Religiosidade de Duke (DUREL), que abrange três dimensões: Religiosidade Organizada, Religiosidade Não Organizada e Religiosidade Intrínseca. Resultados: A Religiosidade Organizada apresentou associações significativas com gênero (maior prevalência entre mulheres: 77,9%) e idade (maior ausência entre idosos de 70–74 anos: 26,8%) (p<0,001). A Religiosidade Não Organizada também se associou ao gênero (presente em 73,4% das mulheres) e à situação conjugal (maior presença entre viúvos: 23,3%; menor entre separados/divorciados: 8,4%). A Religiosidade Intrínseca foi prevalente em 96,3% dos participantes, com associação significativa ao gênero (p=0,048), predominando entre mulheres (67,5%). Quanto à fragilidade sociofamiliar, idosos com fragilidade familiar grave apresentaram maior presença de Religiosidade Organizada (82,4%) do que aqueles sem fragilidade (43,9%) (p=0,032). No que se refere ao suporte social, 69,6% dos idosos com fragilidade grave não possuíam Religiosidade Organizada (p=0,002). A Religiosidade Não Organizada também se associou à fragilidade: foi mais presente entre idosos com suporte familiar frágil (70,6%) e menos prevalente entre aqueles com fragilidade social (63,0%) em comparação aos sem fragilidade (83,0%). A Religiosidade Intrínseca permaneceu elevada em todos os níveis de fragilidade, variando entre 88,2% e 100%. Na análise com sofrimento mental, nenhuma dimensão da religiosidade apresentou associação estatisticamente significativa. No entanto, observou-se variação percentual na Religiosidade Não Organizada entre os grupos com e sem sofrimento, sugerindo uma possível tendência. Conclusão: A religiosidade, especialmente em suas formas não organizadas e intrínsecas, configura-se como recurso psicossocial relevante na velhice. Apesar disso, não apresentou associação estatisticamente significativa com sofrimento mental. Em relação à fragilidade sociofamiliar, Religiosidade Organizada e Religiosidade Não Organizada mostraram-se influenciadas pelo contexto externo, enquanto a Religiosidade Intrínseca demonstrou independência, indicando seu papel como traço culturalmente consolidado entre idosos.